domingo, dezembro 30, 2007

Como a fé resiste à descrença

Semana passada a revista VEJA publicou um artigo de capa com a última discussão levantada neste blog, referente a sobrevivência da religião no mundo atual. Os textos citados eram traduções da revista the Economist de Novembro, e a Veja de 26 de Dezembro tratou do mesmo assunto contextualiazando a discussão ao Brasil. Vale a pena conferir: http://veja.abril.com.br/261207/p_070.shtml Comentários, assim que passarem as festas...rs! Feliz Ano Novo a todos!

domingo, novembro 25, 2007

Psicologia dos atentados com homens-bombas II - Religião é o assunto do século

Em continuação ao post anterior, ao contrário do que alguns poderiam estar esperando não vou comentar sobre os homens-bomba em diretamente porque esse assunto está mais do que comentado no post anterior pelo cineasta Pierre Rehov. Vou no entanto publicar aqui trechos de uma matéria publicada na revista The Economist entitulada "In God's Name" que foi parcialmente traduzida pelo blog http://mecdias.blogspot.com. Logo abaixo re-público o post do blog em voga, mas quem quiser pode ler direto da revista o artigo em Inglês com todas as estátisticas maiores detalhes. Notar-se-a que a questão dos homens-bombas é apenas a ponta do Iceberg sobre a questão que ainda irá se extender e determinar o futuro do mundo: Religião. Vale apena, seja você religioso ou não, o fato é que conhecer essa realidade vai no mínimo te manter bem informado e alerta, fica claro, que essa questão não deve ser ignorada. Cedo ou tarde, cético ou crentes, ninguém, poderá alienar-se de um dos tópicos mais importantes e determinantes do contexto moderno.

"A Nigéria é um país que já apresenta essa realidade. A nação é dividida igualmente entre cristãos e muçulmanos, o que é mais importante para a identidade dos habitantes do que a sua nacionalidade. Desde 1990, estima-se que 20 mil pessoas foram mortas em nome de Deus. Tornando assim a Nigéria em um dos principais campos de batalha espiritual na África.

"Obviamente, americanos e ingleses não estariam morrendo no Iraque e no Afeganistão se 19 jovens muçulmanos não tivessem atacados os Estados Unidos em nome de Alá. Anteriormente o Ocidente havia intervido militarmente para proteger muçulmanos da Bósnia e de Kosovo dos sérvios ortodoxos e croatas católicos. A próxima guerra dos Estados Unidos poderá ser contra a República Islâmica do Irã. Não podemos nos esquecer da guerra na Palestina, onde todos clamam ter Deus no seu lado. Em Myanmar, os monjes budistas se rebelaram recentemente e no Sri Lanka eles tem travado uma guerra contra os muçulmanos.

"Países que eram comunistas também têm tido que lidar com a religião. A polícia secreta russa tem na igreja ortodoxa uma opositora. No parlamento polonês, os oradores fazem o sinal da cruz antes de se pronunciarem. Alguns tecnocratas chineses apóiam o confucionismo como filosofia para o país que cresce rapidamente, mas se opõem à seita budista Falung Gong e temem que os cristãos se tornem em maior número do que os do partido comunista.

"No Ocidente a religião também tem se encontrado com a política. Alguns dizem que nos Estados Unidos, a melhor forma de saber quem é republicano e quem é democrata é perguntar com que freqüência a pessoa vai à igreja.

"O mais interessante é que um pensamento comum desde o Iluminismo era que o modernismo acabaria com a religião. Claramente não tem acontecido. A maioria dos números sobre envolvimento religioso tem demonstrado que o secularismo estagnou e a fé aumentou.
A proporção de pessoas ligadas às quatro grandes religiões -- Cristianismo, Islamismo, Budismo e Hinduísmo -- passou de 67% em 1900, para 73% em 2005 e pode chegar a 80% em 2050.

"Em função desse cenário, pessoas religiosas têm tido maior participação em todas as áreas, incluindo negócios e economia. Durante a maior parte do século 20, a religião não fazia parte da política. Pensava-se que Deus havia sido desfeito por Darwin, escanteado por Marx, destruído por Freud e assim por diante.

"Mas por que o poder da religião parece estar aumentando? Primeiramente devido a uma série de ações e reações entre as religiões. Em segundo lugar, a globalização tem ajudado a propagar as religiões."

Tradução: Marcelo Dias
Publicado em: 12/11/2007
Site:
http://mecdias.blogspot.com.

quarta-feira, novembro 14, 2007

A Psicologia Dos Atentados Por Homens-Bomba



ATENÇÃO: Fonte no fim do texto e os Grifos não são de minha autoria.Faço meu comentário no próximo post.



No dia 15 de julho [de 2005], eu estive no programa “Connected”, da rede norte-americana de televisão MSNBC, para discutir os atentados suicidas ocorridos em Londres no dia 7 de julho [do mesmo ano].

Um de meus colegas convidados era Pierre Rehov, um cineasta francês que já havia feito seis documentários sobre a Intifada durante viagens ocultas a terras palestinas. Seu filme mais recente, “Suicide Killers” [“Assassinos Suicidas“, lançado nos Estados Unidos no começo de 2006], é baseado em entrevistas com familiares de assassinos suicidas e com homens-bomba cujos atentados fracassaram, numa tentativa de descobrir os motivos que levam essas pessoas a cometer tal tipo de atentado. Pierre Rehov aceitou meu pedido de uma entrevista do tipo “perguntas & respostas” sobre seu trabalho nesse novo filme. Muito obrigado a Dean Draznin e Arlyn Risking por terem me ajudado a conseguir essa entrevista especial.


O que o inspirou a produzir “Suicide Killers”, seu sétimo filme?

Eu comecei a trabalhar com vítimas de ataques suicidas para fazer um filme sobre PTSD (Perturbação Pós-traumática do Stress) e fiquei fascinado pela personalidade daquelas pessoas que perpetravam esse tipo de crime, considerando as descrições que as vítimas faziam repetidamente deles. Especialmente pelo fato de esses homens-bomba estarem sempre sorrindo um segundo antes de se explodirem.

Por que esse filme é particularmente importante?

As pessoas não compreendem a cultura devastadora que se esconde por detrás desse fenômeno inacreditável. Meu filme não é politicamente correto, pois ele aborda o problema real: Mostra a verdadeira face do Islã. Ele mostra e acusa uma cultura de ódio, na qual pessoas sem qualquer educação sofrem uma lavagem cerebral de tal ordem que sua única solução na vida passa a ser matar a si mesmos e a outros em nome de D-us, cuja palavra, segundo lhes disseram outros homens, tornou-se sua única segurança.

Que tipo de percepção íntima você adquiriu a partir do filme? O que você sabe agora que outros especialistas não sabem?

Eu cheguei à conclusão que estamos vivendo uma neurose ao nível de uma civilização inteira. A maior parte das neuroses têm em comum um acontecimento dramático, geralmente ligado a um comportamento sexual inaceitável. Nesse caso, estamos falando de crianças e jovens que vivem suas vidas em pura frustração, sem qualquer oportunidade de experimentar sexo, amor, ternura ou mesmo compreensão por parte do sexo oposto. A separação entre homens e mulheres no Islã é absoluta. Assim como o desprezo pelas mulheres, que são totalmente dominadas pelos homens. Isso leva a uma situação de extrema ansiedade, na qual um comportamento normal não é possível. Não é coincidência que os homens-bomba sejam, em sua imensa maioria, jovens rapazes dominados subconscientemente por uma libido completamente reprimida que, além de não poderem satisfazer, lhes causa um medo aterrador, como se fosse obra do diabo. Como o Islã descreve o Céu como um lugar onde tudo na Terra será finalmente permitido – e promete 72 virgens a esses garotos frustrados –, matar outras pessoas e matar a si mesmos para alcançar a redenção se torna a única solução.

Como foi a experiência de entrevistar os homens-bomba frustrados em seus ataques, os seus familiares e as vitimas sobreviventes dos atentados?

Foi uma experiência fascinante e aterradora, ao mesmo tempo. Você está lidando com pessoas aparentemente normais, de muito boas maneiras, com sua lógica própria e que, até certo ponto, pode fazer sentido – já que elas estão convencidas de que o que dizem é verdade. É como lidar com a simples loucura, entrevistando pessoas num sanatório: o que eles dizem é, para eles, a mais absoluta verdade. Eu ouvi uma mãe dizendo: “Graças a D-us, meu filho está morto.” Seu filho havia se tornado um shaheed, um mártir, o que para ela era uma fonte de orgulho maior do que se ele tivesse se tornado um engenheiro, um médico ou um ganhador do Prémio Nobel. Esse sistema de valores é completamente invertido, sua interpretação do Islã valoriza a morte muito mais do que a vida. Você está lidando com pessoas cujo único sonho, único objetivo é realizar aquilo que elas acreditam ser seu destino: ser um shaheed ou parente de um shaheed. Eles não vêem as pessoas inocentes que são assassinadas, eles vêem apenas os “impuros” que têm que destruir.

Você disse que os homens-bomba experimentam um momento de poder absoluto, acima de qualquer punição. Seria a morte o poder supremo?

Não a morte como um fim, mas como uma passagem para o “além-vida”. Eles buscam a recompensa que D-us lhes prometeu. Eles trabalham para D-us, a autoridade máxima, acima de toda e qualquer lei dos homens. Assim, eles experimentam esse momento único e ilusório de poder absoluto, em que nada de mau pode atingi-los pois eles se tornaram a espada de D-us.

Existe um perfil típico da personalidade de um homem-bomba? Descreva essa psicopatologia.

A maioria são jovens entre 15 e 25 anos que carregam inúmeros complexos, geralmente complexos de inferioridade. Eles certamente foram doutrinados religiosamente. Geralmente não têm uma personalidade bem desenvolvida. São usualmente idealistas bastante impressionáveis. No mundo ocidental, eles facilmente se tornariam viciados em drogas – mas não criminosos. É interessante, eles não são criminosos porque eles não enxergam o bom e o mau como nós enxergamos. Se eles tivessem crescido na cultura ocidental, eles detestariam a violência. Mas eles batalham constantemente contra a ansiedade da própria morte. A única solução para esta patologia tão profundamente arraigada é querer morrer e ser recompensado numa vida após a morte, no Paraíso.

Os homens-bomba são motivados principalmente por convicção religiosa?

Sim, esta é a única convicção que eles possuem. Eles não agem assim para conquistar um território, ou para encontrar liberdade, ou mesmo dignidade. Eles apenas seguem Alá, o juiz supremo, e aquilo que Ele manda que façam.

Todos os muçulmanos interpretam a jihad e o martírio da mesma maneira?

Todos os muçulmanos religiosos acreditam que, no final, o Islã prevalecerá sobre a Terra. Acreditam que a sua é a única religião verdadeira e não há qualquer espaço, em suas mentes, para interpretações. A principal diferença entre muçulmanos moderados e extremistas é que os moderados não acreditam que irão testemunhar a vitória absoluta do Islã durante o tempos de suas vidas e, assim, eles respeitam as crenças dos outros. Os extremistas acreditam que a realização da profecia do Islã e seu domínio sobre todo o mundo, como descrito no Corão, é para os nossos dias. Cada vitória de Bin Laden convence 20 milhões de muçulmanos moderados a se tornarem extremistas.

Descreva-nos a cultura que forja os homens-bomba.

Opressão, falta de liberdade, lavagem cerebral, miséria organizada, entrega a D-us do comando sobre a vida cotidiana, completa separação entre homens e mulheres, sexo proibido, destituição de qualquer tipo de poder às mulheres e total encargo dos homens de zelar pela honra familiar, o que diz respeito principalmente ao comportamento de suas mulheres.

Quais as forças sócio-econômicas que sustentam a perpetuação dos homens-bomba?

A caridade muçulmana é geralmente um disfarce para a assistência a organizações terroristas. Mas deve-se também observar paises como Paquistão, Arábia Saudita e Irã, que também dão apoio às mesmas organizações utilizando-se de métodos diferentes. O irônico, no caso dos terroristas suicidas palestinos, é que a maior parte do dinheiro chega através do apoio financeiro fornecido pelo mundo ocidental, doado a uma cultura que, no fim das contas, odeia e rechaça o Ocidente (simbolizado principalmente por Israel).

Existe uma rede de incentivo financeiro para as famílias dos homens-bomba? Em caso positivo, quem faz os pagamentos e qual o peso desse incentivo sobre a decisão [de incentivar um filho a se tornar um assassino suicida]?

Havia um incentivo financeiro à época de Saddam Hussein (US$ 25.000 por família) e Yasser Arafat (valores menores), mas isso já é passado. É um erro acreditar que essas famílias sacrificariam seus filhos por dinheiro. Entretanto, os próprios jovens, que são muito presos às suas famílias, costumam encontrar nessa ajuda financeira uma outra razão para se tornarem homens-bomba. É como comprar uma apólice de seguro e, depois, cometer suicídio.

Por que tantos homens-bomba são jovens do sexo masculino?

Como foi dito acima, a sexualidade é fator soberano. Também o ego, pois esse é um caminho certo para se tornar um herói. Os shaheed são os cowboys ou os bombeiros do Islã. Ser um shaheed é um valor positivamente reforçado nessa cultura. E qual criança nunca sonhou ser um cowboy ou um bombeiro?

Qual o papel desempenhado pela ONU nessa equação terrorista?

A ONU está nas mãos dos países árabes, dos paises de terceiro mundo ou do antigo regime comunistas. É uma instituição de mãos atadas. A ONU já condenou Israel mais vezes do que qualquer outro pais do mundo, incluindo os regimes de Fidel Casto, Idi Amin ou Kaddahfi. Agindo desta forma, a ONU deixa sempre o caminho livre, já que não condena abertamente as organizações terroristas. Além disso, através da UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina] a ONU está diretamente conectada a organizações terroristas como o Hamas, que representa 65% de todo seu aparelhamento nos assim chamados campos de refugiados palestinos. Como forma de apoiar os países árabes, a ONU vem mantendo os palestinos nesses campos, na esperança do “retorno” a Israel, por mais de 50 anos – fazendo, assim, com que seja impossível assentar essa massa populacional que ainda vive em condições deploráveis. Quatrocentos milhões de dólares são gastos anualmente, subsidiados principalmente por impostos dos EUA, para sustentar 23.000 funcionários da UNRWA, muitos dos quais sabidamente pertencem a organizações terroristas (sobre este assunto, consulte o deputado [norte-americano] Eric Cantor e o meu filme “Hostages of Hatred” [Reféns do Ódio]).

Você disse anteriormente que um homem-bomba é, simultaneamente, uma “bomba estúpida” e uma “bomba inteligente". Pode explicar o que isto significa?

Diferentemente de um artefato eletrônico, um homem-bomba tem, até o último segundo, a capacidade de mudar de idéia. Na verdade, ele é nada mais que uma plataforma política representando interesses alheios a si mesmo – ele apenas não se dá conta disso.

Como nós podemos dar um fim na perversidade desses ataques suicidas e do terrorismo em geral?

Parando de ser politicamente corretos e parando de acreditar que esta cultura é uma vítima da nossa. O islamismo radical hoje é simplesmente uma nova forma de nazismo. Ninguém tentava justificar ou desculpar Hitler na década de 1930. Nós tivemos que destruí-lo para que fosse possível a paz com o povo alemão.

Esses homens têm viajado em grande número para fora de suas regiões nativas? Com base em sua pesquisa, você diria que estamos começando a assistir a uma nova onde de ataques suicidas fora do Oriente Médio?

Cada novo ataque terrorista bem sucedido é considerado uma vitória pelos radicais do Islã. Em todos os lugares para onde o Islã se expande há conflitos regionais. Agora mesmo há milhares de candidatos ao martírio fazendo fila nos campos de treinamento da Bósnia, do Afeganistão, do Paquistão. Dentro da Europa, centenas de mesquitas ilegais preparam o próximo passo da lavagem cerebral em jovens rapazes perdidos, que não conseguem encontrar uma identidade satisfatória no mundo ocidental. Israel está muito melhor preparada para lidar com esta situação do que o resto do mundo jamais estará. Sim, haverá mais ataques suicidas na Europa e nos EUA. Infelizmente, isso é apenas o começo.

Escrito por: Andrew Cochran, proprietário do “The Counterterrorism Blog”. Tradução: Gisella Gonçalves
Publicado no site www.DeOlhonaMidia.org.br em: 19/09/2006



sexta-feira, novembro 09, 2007

"Tiros na Finlândia" e o Poder das Idéias

Vídeo sobre o Assassino, o original foi tirado do ar.

Já está famoso na internet o vídeo de Pekka-Eric o mais novo assassino-suicida freqüentador de escolas de primeiro mundo. Em seu vídeo, publicado no You Tube ele diz: "sou um cínico existencialista, anti-humano-humanista, anti-social-darwinista e uma espécie de deus ateu"; "ódio, estou cheio dele e adoro-o"; "Sou a lei, o juiz e o executor, não há maior autoridade que eu".

Nessas horas me passa pela cabeça todos aqueles argumentos ateus contra o cristianismo medieval e suas, praticadas, loucuras anti-cristãs. Mas não vou me ater a isso, afinal, não é justo conceituar o ateísmo baseado nas ações de um ateu em particular, assim como conceituar o cristianismo baseado nos ensinos de um cristianismo em particular.

Mas o que eu gostaria de analisar aqui é o conteúdo da camiseta de Pekka-Eric. No vídeo ele aparece em uma foto, portando a arma e vestindo a camiseta que dizia “Humanity is Overrated” (algo como “A humanidade é supervalorizada”, ou “sobrevalorizada”). Com a intenção de demonstrar seu argumento Pekka-Eric, trata a humanidade segundo sua lógica (desvalorizando a vida, tanto a dele quanto a alheia). Os únicos afetados não são os mortos e feridos, mas sua própria família, amigos, amigos dos feridos e mortos, a Finlândia inteira, a Europa, a América e o mundo. Afinal, apesar de já estarmos nos acostumando com isso, nunca é natural e saudável receber esse tipo de informação não importa onde você viva.

“Humanity is Overrated” é um exemplo do que idéias são capazes. Uma idéia(ou melhor, duas, porque a idéia de "pandemônio escolar" não é nem nova, nem original) tirou a vida de 8 pessoas (felizmente, só não fez mais por falta de mira) e chamou a atenção do mundo todo. A sua idéia era clara e foi levada as últimas implicações.

Muitos questionam a influência da mídia sobre as pessoas, mas é muito evidente que as idéias carregadas por ela podem destruir ou construir. Não quero, nem de longe, por a culpa na Mídia pelo atentado, meu ponto aqui é demonstrar o poder e a eficácia de certas idéias em certos individuos. Mídia é meio, ela apenas carrega uma mensagem. A camiseta(meio) de Pekka-Eric carregava uma mensagem que fazia parte de sua cosmovisão e seu conteúdo foi um dos declarados (por ele) motivos de sua ação. Portanto pergunto: Quem deve ser o responsável pela mensagem? Quem assiste ou quem transmite?

Me parece que a lógica básica do “maior cuida do menor” que encontramos na vida (pai e filho, professor e aluno e nas leis de trânsito) deveria se repetir aqui. A mídia está cada vez mais especializada enquanto a audiência não evolui na mesma velocidade educacional. Em outras palavras, imputar à audiência a responsabilidade sob a mensagem é o mesmo que dar a camiseta para Pekka-Eric.

Alguns podem chamar isso de utopia, eu chamo de conscientização. Mas enquanto isso não acontece cuide, você, com as idéias a que se expõe.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Dexter – Sintoma de uma Sociedade Doente

Atualizado em: 12/12/2007.
CUIDADO: SPOILERS!
Há pouco mais de um ano estreou na TV americana, pelo canal Showtime, o seriado Dexter. A idéia é no mínimo criativa e isso atraí a atenção e curiosidade de muita gente, principalmente aqueles já influenciados pela nova onda de seriados que surpreenderam o público por sua originalidade como Lost, 24 horas e Desperate Housewives.

Dexter, é um seriado para quem não tem estomago. Pra falar a verdade, é preciso não ter mais algumas outras coisas também... Eu sei que vou revoltar alguns fãs (talvez vão querer me esquartejar), mas é só por que são fãs que se sentirão assim. Já compraram a sandice como entretenimento. Preciso confessar aqui, para que fique claro aos leitores, que me entreti muito com a série também. Não foi atoa que assisti até boa parte da segunda temporada. Entretanto, basta uma breve analise nos argumentos e não se poderá escapar da sensação de vômito (perdoem minha falta de eufemismo). Dexter é um entretenimento irresponsável.

Imagine um menino adotado que se descobre um psicopata ao desmembrar animaizinhos. Seu pai, um policial de Miami, percebe e começa ajudar seu filho a lidar com o problema. Ele começa ensinando o menino a se portar e se encaixar na sociedade, dando a ele um conjunto de valores e códigos que ele segue por puro condicionamento. Como psicopatas não sentem emoções, é uma tarefa difícil para ele se adaptar. O pai logo descobre que não poderá conter os instintos de seu filho por muito tempo e decide ajudá-lo a canalizar esses impulsos. Ensina o seu filho a matar e não deixar rastros. E matar somente aqueles que “merecem”, ou seja, assassinos, psicopatas e serial killers, como ele mesmo. Só não é mais fascinante porque é sórdido. Dexter, trabalha na policia fazendo a analise de sangue das cenas do crime. Mas ele mesmo é um assassino que deveria ser preso e quem sabe até executado, pelas leis americanas. Ele espreita suas vítimas, sempre com o argumento absurdo de ter uma boa razão para isso, afinal de contas ele só mata parias da sociedade. Ele prepara a cena do crime, as amarra sem roupas com uma fita adesiva transparente, faz seu pequeno show, dando argumentos para a vítima e pro expectador, escolhe a arma (sempre objetos de corte ou perfuração) e inicia o que ele mesmo chama de “ritual”, executando com sadismo as vítimas. Que sempre saem de cena dentro de vários sacos. Dito isto, considere, esse cara é o herói da trama!

Alguns dos detalhes abomináveis que gostaria de ressaltar: A sua primeira vítima foi a mando de seu pai que estava hospitalizado e dizia que sua enfermeira o estava drogando até a morte. Boa desculpa, não? Não! Bem, ele pega a velhinha, coloca pelada na mesa ritual, faz ela implorar pela vida e depois enfia-lhe uma faca até que o sangue jorre em sua roupa. Outra cena interessante é quando ele vai matar um rapaz, que ele pensava ser um serial killer, que por sorte no último segundo, explica que havia sido traumatizado por um estuprador na infância e por isso o matou a facadas. Ele estava para fazer “justiça”, mas parece que não era bem justiça assim. E se o menino não tivesse tempo de avisar? Teria sido esquartejado. Detalhe, o rapaz já tinha passado alguns anos na cadeia, pagando pelo que fez. A última cena que me impressionou foi a de um casal de “coiotes”, que matavam os cubanos que não pagavam a taxa de libertação ao chegar nos EUA. Ele matou os dois juntos, um assistindo a morte do outro, ao som de gritos de “eu te amo”, o que é extremamente cruel, sem a menor cerimônia. Só pra você não esquecer, esse cara é o Herói!

Como se não bastasse, o pai de Dexter o ensina a ser furtivo com a desculpa de ensiná-lo a sobreviver a cadeira elétrica. Em suma, o código de valores do pai diz que se seu filho for um monstro, ainda que mate muitas pessoas tem de sobreviver. Ele irresponsavelmente cria um monstro e o solta na sociedade. Dexter por sua vez diz não poder controlar sua necessidade de matar, isso é uma desculpa pra seus impulsos. Também agradece a um psiquiatra que o tratou, por tê-lo ajudado a aceitar quem ele realmente é, o esquartejando em seguida. Você acha que um psicopata deveria conformar-se com sua situação? Dexter também obstrui a justiça, cometendo crimes sérios dentro da corporação policial, como implantar evidências. E espera sinceramente que um Serial Killer continue solto a matar mais pessoas para continuar com seu mórbido fetiche competitivo. A glamourização é tão grande que a ultima morte que assisti, foi ao som de musica. Ocorre então a banalização da morte. A filósofa americana Sissela Bok, da Universidade de Harvard, nomeia essa circunstância de “fadiga da compaixão”, “um estado de espírito que torna possível testemunhar a brutalidade com distanciamento, sem envolvimento” (Super Interessante, 7 de Junho de 1999, p.p. 21).

Por fim, me pergunto, por que a sociedade americana se permite esse tipo de entretenimento? Por que num lugar onde pessoas pegam em armas e promovem o inferno, entretenimentos desse tipo são criados? Por que na terra dos serial killers esse tipo de entretenimento é impunemente promovido? O que garantirá que reprimidos psicopatas não saiam do armário, com boas desculpas para canalizar seus impulsos? Com tanta glamorização da sociopatia o que os impedirá? Talvez aquele que não soube do seu problema possa se reconhecer na tela, e em vez de buscar ajuda, tente se resolver como Dexter o faz. Sem ajuda profissional e cometendo crimes hediondos. Assim como pessoas normais são influenciadas pelo glamour da mídia, talvez, com quase certeza, psicopatas adormecidos não acionem algum botão que lhes destinará a reviver as “aventuras” de Dexter. Até porque, o personagem faz questão de ser desafiador e desafiar outros serial killers. É muito fácil se perguntar: “Quem será o melhor Serial Killer?” Pelo que aprendi do seriado, eles adoram competição. Numa competição de Serial Killers, quem você acha que vai sair perdendo? Engraçado, não fosse trágico e doentio. Eu já assisti mais do que deveria, pra mim chega!

sexta-feira, outubro 19, 2007

“Perdendo os critérios” – Ciência Moderna

Estive presente no I Seminário Internacional do Jesus Histórico na UFRJ. O convidado principal não foi ninguém menos que John Dominic Crossan, fundador do Jesus Seminar e um famoso acadêmico no estudo do Jesus histórico. É criticado por alguns quanto ao seu método, que parece ser o tendão de Aquiles de suas conclusões.

O seminário foi enriquecedor e espantoso. Espantoso porque descobri algo que não imaginava ter chegado ao ponto que chegou. A ciência está perdendo os critérios. Na busca de um discurso cada vez menos dogmático duas implicações devastadoras estão surgindo em direção ao método cientifico. 3 foram os casos analisados.

1 – Alguns pesquisadores escolheram citar textos de Jesus como sendo históricos e a outros textos do mesmo Jesus descartaram com base apenas no senso comum atual. O que não faz o menor sentido, tendo o texto sido escrito para uma audiência do I e II séculos d.C. Em outras palavras o que Cristo diz que corrobora suas idéias se sustenta sobre o Método Crítico Histórico, mas os textos irrelevantes para a idéia principal do pesquisador, ou mesmo que se oponham a ele, são descartados sem o menor critério.

2 – Outros pesquisadores basearam suas “descobertas cientificas” em fatores completamente hipotéticos. E ao menos, responsavelmente, assumiram tal dependência de hipóteses construídas sem evidência suficiente. Ou seja, estabeleceram todo uma pesquisa em bases instáveis (por não haverem comprovação alguma, apenas hipóteses teóricas) para concluir, no fim, aquilo que só poderia ser possível se comprovado fosse a hipótese, não provada, da base desta pesquisa. Assustadoramente especulativo.

3 – Por fim, o pior e mais medonho dos argumentos metodológicos da ciência que presenciei no evento: Mais de um dos palestrantes fizeram alusões ao pluralismo de idéias, a inexistência de verdades absolutas, mas verdades subjetivas. A materialização máxima do discurso anti-dogmático. “A ciência não pode ser dogmática”? Isso é uma grande ilusão pós-moderna. Afinal de contas quando se diz que a Ciência não pode ser dogmática, ou que não há verdades absolutas, ou que todas as verdades são subjetivas, então, estamos dogmatizando e estabelecendo a pluralidade de idéias como uma verdade absoluta (o que é extremamente contraditório com a própria proposta pluralista). Em outras palavras, não existe anti-dogmaticismo, mas sim oposição aos dogmas discordantes. O argumento do pluralismo não se auto sustenta. Um rio sempre tem 2 margens, não há como encontrar uma terceira.

O que nos traz a última das implicações desse discurso, a Ciência ficou sem critérios por não admitir a absoluta verdade. Embora esse discurso se baseie na constante evolução do conhecimento e das verdades cientificas no decorrer do tempo (aquilo que era verdade 50 anos atrás, hoje pode ser motivo de escárnio). Isso também é uma falácia, porque não se pode combater mentiras se elas não se posicionarem como verdades. A doutrina do pluralismo de idéias condena as boas idéias a se misturarem com más que nunca serão desmascaradas por nunca terem se apresentado como verdades incontestáveis. Faz parte do processo evolutivo cientifico que uma verdade se levante como absoluta para ser posta a prova e, se possível, seja combatida e substituída.

Há um outro fator problemático na questão de por especulações em posições de verdades cientificas para serem postas a prova. Como sua base é inconsistente, mesmo que resistam anos, serão frutos de estudos que não se saberá, talvez nunca, a relevância do tempo despendido nessa pesquisa. Ou seja, uma grande, e irracional, perda de tempo.

No fim esse é um problema encontrado nos egos humanos que não desejam ser contrariados, e prefere admitir verdades alheias como válidas desde que não se invalide a própria. Mas deixando de lado essa profundidade filosófica veja que a ciência está se transformando naquilo que mais odiou e repudiou desde seu nascimento. A fé cega. Fé cega na ciência. A mesma fé cega que a desconectou definitivamente da religião. Faz-se declarações “cientificas” baseadas em especulações infundadas, sem comprovação e tão relativas que me pergunto qual a relevância delas? Qual a relevância de pesquisas cientificas se a verdade absoluta não existe? Se o que ficará concluído é fruto da subjetividade da mente do pesquisador? Qual o objetivo da Ciência? Assim que a ciência reparar para o buraco que está descendo e começar a se fazer essas perguntas, quem sabe não vá sofrer uma crise de descrédito como o que a Religião vive hoje? Quem sabe não se auto-destrua? Espero que não. Mas não vejo relevância em argumentos subjetivos e especulativos, você vê?

sexta-feira, outubro 05, 2007

Richard Dawkins está MUITO certo!

Ao analisar a obra mais famosa de Richard Dawkins, O Gene Egoísta, podemos ver a sistematização de uma realidade conhecida a milhares de anos atrás, o ser humano é egoísta por natureza. O irônico dessa constatação repousa no fato do resultado da pesquisa cientifica de Dawkins ser completamente concordante com o livro que ele mais condena. A Bíblia.

Pois é, o que Dawkins concluiu não é novidade alguma para os escritos bíblicos, na verdade essa é parte tônica de muitos dos ensinos e propósitos desse livro. E é extremamente louvável o esforço do zoólogo, que afinal, foi capaz de provar cientificamente a verdade bíblica que diz ser a natureza do homem essencialmente má (Jeremias 17:9; Romanos 3:10).

Em outras palavras a ciência em favor da fé. Dawkins em favor da Bíblia. Muito Irônico. Uma pena que por possuir a intransigente premissa da inexistência de Deus, ele tenha que passar por essas desconcertantes situações. Não vejo problema algum em sua posição negativa de Deus, o problema em minha opinião é a do velho clichê: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Não mudar de opinião não indica intransigência, mas não julgar as informações disponíveis (o que o método cientifico exige) é tapar os olhos para não ver, isso é intransigência. Não quero provar nada, converter Dawkins ou seus seguidores com esse texto, apenas levar a simples reflexão de que as coisas não são tão simples assim.

Pra falar a verdade, aí que está a complicação, porque não faz o menor sentido para um organismo egoísta realizar atos de altruísmo. Inclusive esse é o grande problema do momento para o evolucionismo que não consegue explicar o altruísmo. Aquele ato de doação da sua própria existência sem esperar receber nada em troca. Ou mesmo a simples ética da honestidade, que faz você estar sozinho em um quarto escuro e não ousar deflagrar o seu imposto de renda. Ou quem sabe você deflagre, então aquele sentimento de culpa, que surge, vem da onde se o gene é egoísta e só está preocupado com seu bem-estar? Enquanto eles tentam, sem sucesso, resolver esse problema, o mais óbvio é obliterado em nome de razões volitivas e não racionais. Tão volitivas quanto a própria religião que ele condena. O que é tão óbvio? Ah, eu nem preciso te dizer, você já sabe, mesmo que negue.

sexta-feira, setembro 28, 2007

PESSOAS VALEM MAIS DO QUE COISAS


Sabe quando você encontra uma verdade que se torna parte de sua cosmovisão pra sempre? Aquele momento mágico quando você vê em perfeita delimitação uma idéia que, embora nunca tenha entrado em contato com você daquela maneira, é tão familiar? Isso aconteceu comigo quando meu professor de Comunicação Aplicada, há 1 ano atrás, delineou a frase mais simples do mundo, mas com a verdade mais pragmática que a minha inteligência social jamais se esquecerá. “Pessoas são mais importantes que coisas”.


Se me permite avançar nesse pensamento gostaria de amplia
r esse conceito para: “Vida é mais importante que coisas”. Define-se, portanto como “coisas” tudo aquilo que não vive. Eu sei, pra meia dúzia de gatos pingados pode parecer óbvio o que eu estou dizendo até aqui, mas digo para essa minoria, acreditem em mim, há uma maioria que não entende de maneira tão simples assim essa verdade.

É fácil, no mundo de hoje, que pessoas se apaixonem por coisas, e com isso passem por cima daquilo que mais importa na vida. Pessoas. Na verdade há uma super-valorização da pessoa quando isso ocorre, mas da pessoa errada, a pessoa valoriza os seus desejos acima dos valores externos e desejos alheios. Quando alguém rouba, mata, adultera (em todos os sentidos, sexuais, sociais e econômicos), engana, trai, passa por cima de outros interesses, magoa, quebra leis, maltrata um animal e etc... O que está ocorrendo é a super-valorização de si. O que, por conseqüência põe as coisas, que são os objetos de desejo desse individuo, acima das pessoas. Acima dos verdadeiros valores da vida. Nos tornamos aquilo que desejamos, portanto cada vez mais os homens se parecerão com coisas, e não com seres viventes. Coisas não se relacionam, se aproveitam, se servem, se usam. São intransigentes e impessoais no cumprimento de suas funções.

Impacto da inversão de valores de hoje

Alguém pode estar se perguntando, “mas porque relacionar-se é mais importante?” Semana passada assisti um filósofo na TV dizer uma das poucas frases televisivas que marcaram minha vida: “A família é a única instituição capaz de gerar vida”. Ficou claro? Só relacionamentos geram vida. É a contribuição mais básica e mínima que um ser humano pode dar a natureza, gerar vida. Qual o significado e a relevância de Plutão para o Universo? Nenhuma, mas e se houvesse vida lá? Então ele seria um dos mais importante planetas da Via-láctea juntamente com a terra. A vida por mais incompreendida que seja é o que conhecemos de mais valioso, seja na esfera pessoal ou na coletiva. Mesmo aqueles que já desistiram da vida ou não dão mais seu devido valor, o fazem por amor a ela.

Voltando ao assunto, entendemos com isso, que o mundo de hoje é materialista porque falta altruísmo. Em outras palavras o excesso de egoísmo nos consome, porque os relacionamentos humanos são substituídos por relações entre coisas e pessoas. Objetos e viventes. Desejos e realizações de um único individuo. O homem se relaciona mais consigo mesmo e menos com o resto do mundo. O Ipod é prova disso. Quanto mais tempo se passa com uma coisa, menos tempo se relaciona, e mais tempo se passa sozinho.

Isso não está garantindo nem de longe a sobrevivência da espécie humana, mas da espécie “individuo”. As relações humanas sempre existirão, mas elas tem cada vez menos significado, estão a serviço do individuo em sua busca pessoal de se realizar. Quanto mais esse fenômeno ocorre e se expande, mais as coisas se valorizam sobre a vida. Menos paz teremos, mais divisões, mais disparidades, menos felicidade, mais estresse, mais pressa, mais capitalismo, menos solidariedade e etc...

Estava conversando com um amigo sobre armas de pressão, e ele me contou que adorava matar passarinhos de longe. Então eu disse que não atirava em passarinhos, gostava de atirar em vidros e objetos que sofressem o efeito dos tiros. Ele imediatamente entendeu minha crítica velada e disse: “Você não atira em passarinho, mas atira nas coisas dos outros?” Entendi que ele havia interpretado a palavra “vidros” como referência as janelas dos meus vizinhos e a carros alvejados. Automaticamente, concertei o equivoco e expliquei que me referia a vidros que eu possuía e guardava só para essa atividade...Espera um pouco!!! Volta a fita...

Você notou que esse meu amigo pos os bens alheios acima da vida dos passarinhos? Talvez você nem tenha percebido isso, não acha que é hora de reconsiderar? Quer dizer que vidros de janelas, e bens alheios tem mais valor do que um animal que “é”, vive e sente individualmente? Esse animal tem responsabilidades sociais com sua prole e se relaciona com os outros iguais de sua espécie, por isso não vale mais do que um pedaço de vidro que custa menos de R$5,00?

Povo Lotuho ou Latika

“Para o africano tradicional, manter o equilíbrio e harmonia em relacionamentos dentro de sua família e tribo é extremamente importante. A posse de bens materiais é muito menos importante do que manter uma adequada interação com outras pessoas. Para o homem ocidental, por outro lado, o valor das pessoas tende ser medido pela quantidade de suas posses – terra, dinheiro, bens. Um resultado é a busca pelo sucesso que significa longas horas de trabalho e disposição para aniquilar outros trabalhadores, amigos e mesmo família para que se possa obter grandes lucros.

O povo Lotuho, do sul do Sudão, por algum tempo rejeitou o uso de boi para puxar arado, mesmo sabendo que o uso desses animais aumentaria sua produção de alimento. Com o boi, as grandes festas que aconteciam enquanto os campos eram preparados para a semeadura não seriam necessárias, e aquelas festas eram cruciais para manter os relacionamentos na sociedade. Melhor Ter menos alimento, eles diziam, do que arriscar a harmonia dentro do vilarejo”(Apostila 2006, Comunicação Aplicada, Professor Valdecir Lima).

Se ainda não ficou claro, lá vai:

Na vida o que há de mais importante não são coisas, mas relacionamentos.

Sem essa compreensão e a legitimidade de nossos relacionamentos, seremos apenas indivíduos sozinhos numa multidão de abandonados. O dia em que a carreira, emprego, oportunidades de vida pessoais, lucros, objetos de desejos e coisas em geral forem mais importantes que pessoas em geral na sua vida, esta na hora de reavaliar seus valores. Temos vivido para que? Para cumprir tabela no dever de existir? Para nos realizarmos ao custo de tudo e de todos? Esse comportamento na prática é o que define quem você é. Você é uma coisa ou uma pessoa? Pessoas se relacionam.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Quem vence é quem perde ou quem ganha?


Nesse post quero apenas recomendar a leitura de um post em outro blog referente ao ocorrido no Jogo Nottinghan Forest X Leicester City na Inglaterra. Pela primeira vez na história um time iniciou a partida permitindo deliberadamente que o goleiro do outro time fizesse o gol. Porque? Espírito esportivo. Ou foi Altruísmo? Essa história é sensacional.

Dê uma checada em http://nacontramaodopensamento.blogspot.com

segunda-feira, setembro 17, 2007

A morte da esperança II – O Homem não é a solução?

Nesta última semana o Youtube publicou a Premiere mundial do novo clipe musical do grupo Matchbox20, chamada “How far we’ve come”(Quão longe nós chegamos). Não importa se você gostou do som da música, mas a letra que é realmente profunda. Fala sobre o mesmo assunto que nós estávamos conversando antes. O fim da esperança para a humanidade. Não importa também se estamos falando de fim apocalíptico, guerras nucleares ou aquecimento global, o mesmo comportamento Entrópico é bem notado por todo mundo.

Preste atenção na letra que reconhece a situação solitária do homem pós-moderno e niilista (pode não ter ninguém para se despedir) e nas imagens de fundo. Você verá as grandes conquistas da humanidade assim como uma alusão a nossos grandes fracassos. Então, no último coro, vemos no fundo o símbolo universal de alegria e comemoração: Fogos de artifícios enquanto ouvimos sair da boca do grupo palavras de antagonismo em forma de ironia. Em outras palavras, nós estamos “fingindo” ser gloriosos, entretanto “Vamos ver quão longe chegamos”. Segue a letra, porcamente traduzida por mim:


Estou andando no inicio do fim do mundo,

Mas está parecendo como uma manhã qualquer anterior,

Agora me pergunto: O que minha vida vai significar depois que acabar?

Os carros se movem como a 1 quilometro por hora

E eu comecei a olhar para os passageiros que acenavam “adeus”.

Você pode me dizer o que, algum dia, eu tive de especial?


Coro:
Mas eu creio que o mundo está ruindo ao chão

Oh bem, I acho que já vamos descobrir

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Bem eu,creio, que tudo, está caminhando para um fim

Oh bem, eu acho, que vamos todos fingir,

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos


Eu acho que já deu 10 horas, mas eu realmente não sei

Então não consigo me lembrar de ter sido atencioso uma hora ou mais

Comecei a chorar e não podia parar

Comecei a correr, mas não havia para onde correr

Sentei na rua e dei uma olhada em mim mesmo

E disse: Aonde está você está indo homem?

Você sabe que o mundo está condenado ao inferno

Diga adeus, se tiver alguém para dizer adeus

[Coro]

Se foi baby, tudo se foi

Não há ninguém nenhum apoio e ninguém está em casa

Foi legal, legal, foi tudo legal

Agora acabou pra mim e acabou pra você

[bis]


Mas eu creio que o mundo está ruindo ao chão

Oh bem, I acho que já vamos descobrir

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Bem eu,creio, que tudo, está caminhando para um fim

Oh bem, eu acho, que vamos todos fingir,

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

Vamos ver quão longe chegamos

quinta-feira, setembro 13, 2007

Heróis em decadência – o fim da esperança

Tenho notado e me irritado muito com a forma como os heróis tem sido retratados atualmente. O renascimento dos heróis no cinema e nas séries de TV é apenas uma ilusão. Eles estão morrendo. Todos os últimos filmes de heróis lançados, apenas uma coisa foi comum a todos. O pensamento pós-moderno e a desesperança. Todos os heróis hoje são menos heróis, mais humanos (mesmo não sendo terráqueos), cheios de defeitos e com crises existenciais.

Não sei se ainda se lembram, mas o objetivo do herói sempre foi inspirar integridade, moralidade, valores e a esperança de que alguém nos salvará de nós mesmos. Entretanto, os heróis agora são mais um de nós. Não são mais íntegros, veja por exemplo Superman. Ele usa seus poderes para espionar e invadir a privacidade de Louis Lane, sua ex-mulher, agora casada com outro homem. Não bastasse isso, ele imoralmente alicia e a coloca em situação de traição a seu marido atual. Ainda no mesmo filme, o filho de 5 anos de Superman, mata um homem. Tudo bem, você pode dizer que ele merecia, mas e daí? Uma criança de 5 anos tem o poder de julgar quem vive e quem morre agora? E se ele fez sem querer, onde está a responsabilidade de quem tem poder? Essa segurança sempre nos foi dada pelos heróis que nos protegiam daqueles que irresponsavelmente usam seu poder.

Pense em qualquer filme atual, de X-Men à Tartarugas Ninja, de Rocky VI a Rambo 4, todos tiveram crises de existência em que seus poderes lhes representavam um peso muito grande e dificultavam de alguma forma no cumprimento de suas tarefas de salvar o mundo. Por que nossas novas histórias são assim? Porque queremos aproximar essas histórias da verdade ou porque estamos cada vez mais descrentes em tudo? Parece que a segunda lei da termodinâmica se faz presente até em nossas idéias e criações. Podemos ver na musica do grupo Norte-americano Nickelback, entitulada “Hero”, onde o compositor afirma não esperar mais um salvador:

“And they say that a hero can save us. Im not gonna stand here and wait… Someone told me love will ALL save us. But how can that be? Look what love gave us.
A world full of killing, and blood-spilling That world never came”.

“E eles dizem um herói pode nos salvar. Eu não vou ficar parado aqui e esperar...Alguém me disse que o amor irá nos salvar a todos. Mas como pode ser?

Olhe o que o amor nos deu. Um mundo cheio de assassinatos e derramamento de sangue. Aquele mundo nunca veio”.

Enquanto continuarmos olhando para o nosso umbigo só encontraremos defeitos e desapontamento. Super-Heróis não existem, mas não sei até que ponto deixar de aguardar por uma intervenção salvífica externa nos esta sendo útil? Cansamos de esperar ou estávamos olhando pro lado errado esse tempo todo? E se houver salvação fora da nossa superficial realidade? E se?... A ciência não tem a resposta, a religião diz que tem. Até onde você já investigou essa hipótese? Precisamos de esperança, não uma falsa esperança, rejeitamos isso (por isso humanizamos os heróis), mas uma verdadeira esperança. Você acha que isso existe? Eu creio que sim.

Devemos aceitar o finito desapontamento, mas nunca perder a infinita esperança.

Martin Luther King Jr.

quarta-feira, agosto 29, 2007

E se o homem pudesse criar vida?

Grande problema ele criaria. Eu estava lendo um tópico em outro blog (http://1001gatos.org/uma-definicao-definitiva-de-vida/) sobre o sonho da Ciência de criar vida em laboratório. De fato, o sonho é bem mais incrível. Queremos criar vida de matéria inorgânica. Isso seria impressionante, mas seria possível? Parece que encontramos no silício o melhor substituto para a matéria orgânica, composta de carbono, para a criação da vida.

Ok, legal, mas quais são os efeitos de um feito destes? Eu não quero falar sobre o processo de clonagem aqui, mas essa foi a primeira barreira que tentamos cruzar. Alguns cientistas gostam da idéia, outros odeiam. E isso nos traz um ponto de vista bem interessante sobre o assunto. Siga-me. Francis S. Collins, Diretor do projeto Genoma, disse em uma entrevista a revista VEJA esse ano que não via na clonagem nenhuma soma positiva e que no fim só nos odiaríamos mais e nos sentiríamos mais sujos e culpados por a termos feito. Eu tenho que concordar com ele. As questões éticas que podem se levantar desse caso estão além da nossa capacidade de lidar com elas. Todo o mundo seria abalado por isso. A própria essência de nossa existência seria posta em uma séria discussão.

Então, e quanto a criação de vida? Eu acho que você já entendeu o quadro. As questões éticas concernentes a criação de vida são ainda mais profundas que as da clonagem. Imagine as questões mais superficiais que surgiriam: O que esse ser será? Qual o significado de sua existência? O que deveríamos ser para ele, Mestres, deuses, país, irmãos? Se são nossa criação, são nossa responsabilidade, deveríamos então garantir sua existência? Ele seria livre? E a lista é infinita.

Se a última pergunta foi respondida positivamente, então isso indica que nossa criação pode nos dar as costas! Significa que teria o direito de lutar contra nós, odiar-nos, culpar-nos, fazer exatamente o que fazemos com Deus. Se você não crê em Deus, é exatamente esse direito de livre-arbítrio que seria garantido a nossa criação. Eu sei que estamos falando sobre uma forma de vida inteligente, e eu sei que não começaria assim, mas com certeza esse é o fim desejado. Embora possa ser apenas como um animal no começo, mesmo assim, não importa que forma de vida possuísse, levantaria questões éticas além do conhecimento sobre nossa própria existência. Ao menos o que cientificamente sabemos sobre nossa existência, origem e razões de existir.

Não parece óbvio que com todas essas questões éticas, e necessidade de conhecimento, a ciência e a religião deveriam deixar seus preconceitos para trás e iniciar uma busca das respostas necessárias? Religião não tenta mais negar a ciência, isso foi no período Medieval. O que temos hoje são maus religiosos e má ciência. De ambos os lados há dogmatismo e preconceito. Um lado só vê os podres do outro, mas a sociedade continua sem as respostas. A ciência tem ido muito longe ignorando o poder e a legitimidade da religião, mas cedo ou tarde ela terá de encara-lá novamente. Não importa quão avançada ela esteja. E se a religião tiver a resposta? Eu não estou falando de um sistema religioso, mas do conteúdo de uma religião. Não acha intransigente negar essa possibilidade? No entanto, o contrário também se aplica.

Maus cristãos são como maus cientistas. Humanos são imperfeitos em todo lugar. Até Richard Dawkins é antipático, arrogante e dogmático, igual a George W. Bush. Mas esse é outro tópico.

terça-feira, agosto 28, 2007

A Grande Solução de Segurança do Brasil – A Nova Tomada

É impressionante, mas o meu país me surpreende todos os dias. A última eu to pra comentar a algumas semanas. Apartir de Agosto de 2007 até 2009 todas as tomadas elétricas terão de ser trocadas. Os aparelhos elétricos terão de ser fabricados no novo modelo brasileiro. Isso mesmo, Brasileiro. Nós, mestres da industria tecnológica e eletrônica mundial. Desenvolvemos uma nova super-tomada capaz de ser...hum... mais segura!?!?! Que mais? Só isso.

Enquanto temos problemas com segurança civil pipocando nos centros urbanos do país, estamos preocupados com os casos de choques acidentais. Me pergunto qual deve ser a porcentagem de brasileiros que morrem sob efeito do choque acidental por tomadas elétricas. Não é só isso, quem mata mais a tomada ou o tráfico de drogas? Tudo bem, alguém pode dizer que uma coisa é resolver um assunto simples como uma tomada, outra o tráfico de drogas. Mas é ridículo onerar ainda mais o cidadão com uma solução tão cara e insignificante para a vida do brasileiro. As tomadas são baratas, talvez pra mim e pra você que temos acesso a esse blog, mas e para aqueles que não tem nem acesso a Internet? Para estes, R$3,00 são 16 pães. E quanto ao gasto das fabricas na adaptação dos aparelhos eletrônicos, na própria fabricação da nova tomada, na disponibilização delas no comércio, na troca dos espelhos de parede para as tomadas, adaptação dos produtos importados e etc... Quanto gasto. Fora a bizonhisse aparente do produto. Soma-se a isso o gasto de fiscalização da transição e do combate ao antigo sistema de tomadas que acredito vá resistir bravamente por anos, mesmo que seja no submundo, famoso pelos preços baixos. O que me lembra que a obrigatoriedade da mudança encarecerá injustamente o custo do mesmo.

Por fim, fica a reflexão, enquanto o mundo se esforça sistematicamente para uma unificação homogênea, ao menos no que tange a economia, o Brasil se destaca por estar na direção oposta. Esse novo sistema para segurança do cidadão será um estorvo para a industria, na exportação e importação de produtos eletrônicos. Talvez esse fosse o tipo de produto que nos seria extremamente atrativo não fosse obrigatório, super-valorizado e fora de tempo. Há necessidades mais profundas do que estas em nossa realidade presente.

terça-feira, agosto 21, 2007

Se te queres matar - Álvaro de Campos

Álvaro de Campos (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) escreveu esse poema no mínimo impressionante. O texto é extremamente pragmático e analisa com frieza e razão as implicações de um suícidio tanto como motivação, como em eficiência. Porém é preciso fazer uma ressalva. O texto não é cristão. E por isso, ignora uma realidade do cristianismo que faz toda a diferença. Deus nos valoriza, temos valor e importancia para Ele. A ponto tal que morreu por nós, para que essa realidade descrita não fosse a verdade. Mas se você não crê em Deus, esse texto é um convite a reconsideração, pois qual é a esperança daquele que não vê sua origem significativa, proposital e valorizadora? Qual é a Esperança? Não há esperança! Não sem Deus. Porque o fim será apenas o narrado abaixo. Nada mais. Só mais um detalhe, não entenda que defendo a imortalidade da alma, ou qualquer desses pensamentos retributivos de céu e inferno imediatamente após a morte.

Espero sinceramente que esse Ode ao suicídio seja mais um convite a reflexão sobre a vida e seu real sentido do que uma pessimista visão de mundo. Há esperança em Deus. Para onde a vida segue sem Ele? A resposta esta na insinuação do poema...

"Se te queres matar, porque não te queres matar?Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,Se ousasse matar-me, também me mataria...Ah, se ousares, ousa!De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas A que chamamos o mundo?A cinematografia das horas representadasPor actores de convenções e poses determinadas,O circo polícromo do nosso dinamismo sem fim?De que te serve o teu mundo interior que desconheces? Talvez, matando-te, o conheças finalmente...Talvez, acabando, comeces...E de qualquer forma, se te cansa seres,Ah, cansa-te nobremente,E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,Não saúdes como eu a morte em literatura! Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...Sem ti correrá tudo sem ti.Talvez seja pior para outros existires que matares-te...Talvez peses mais durando, que deixando de durar... A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantadoDe que te chorem?Descansa: pouco te chorarão...O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,Quando não são de coisas nossas,Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte, Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros...Primeiro é a angústia, a surpresa da vindaDo mistério e da falta da tua vida falada...Depois o horror do caixão visível e material,E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali. Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,Lamentando a pena de teres morrido,E tu mera causa ocasional daquela carpidação,Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...Muito mais morto aqui que calculas, Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova, E depois o princípio da morte da tua memória. Há primeiro em todos um alívio Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido... Depois a conversa aligeira-se quotidianamente, E a vida de todos os dias retoma o seu dia... Depois, lentamente esqueceste. Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste; Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. Duas vezes no ano pensam em ti. Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram, E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti. Encara-te a frio, e encara a frio o que somos... Se queres matar-te, mata-te... Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência!... Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida? Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera As seivas, e a circulação do sangue, e o amor? Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida? Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma? És importante para ti, porque é a ti que te sentes. És tudo para ti, porque para ti és o universo, E o próprio universo e os outros Satélites da tua subjectividade objectiva. És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim? Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial? Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida? Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente: Torna-te parte carnal da terra e das coisas! Dispersa-te, sistema físico-químico De células nocturnamente conscientes Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos, Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências, Pela relva e a erva da proliferação dos seres, Pela névoa atómica das coisas, Pelas paredes turbilhonantes Do vácuo dinâmico do mundo..."

domingo, junho 24, 2007

A Glória do EU

Quantas vezes você já viu atores, atrizes, artistas em geral ou mesmo pessoas que estão se candidatando a algum trabalho se descreverem como pessoas “determinadas”? Eu já me cansei de ver. Em quase toda definição pessoal ou traço de perfil hoje é possível encontrar palavras sinônimas como: “persistência, tenacidade, determinação, força de vontade” e etc...

Apesar de já ter me familiarizado com essa prática moderna de se auto definir foi uma brincadeira com um amigo (José Rodrigues Jr.) a respeito desse clichê emergente que me levou a procurar perfis de pessoas famosas na Internet. Não foi preciso perder tempo ou procurar demais, o primeiro perfil que encontrei tinha “como característica mais marcante” a não menos famosa “Determinação”. A busca prosseguiu e enquanto conversávamos pelo telefone nos admirávamos de quão comum era a presença dessa característica nas pessoas. Selecionei um bom exemplo para quem quiser se divertir com esse clichê também, segue o link dos 16 candidatos do programa “Aprendiz 4 – O Sócio” da Rede Record, com as auto-definições de cada candidato (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u70802.shtml) .

E eles ainda não eram famosos quando se descreveram, o que indica o quanto que essa prática tem influenciado a todos dentro ou fora do contexto artístico. Talvez o contexto artístico nem seja o pai dessa definição como sendo a característica mais importante de um ser humano, mas com certeza eles são os maiores propagadores dessa idéia. Mas da onde vem essa tendência? Porque as pessoas precisam dizer hoje que são determinadas? Qual a vantagem de ser determinado? Se olhar a ficha dos candidatos do programa acima citado verá que muitos dos que se auto-proclamavam determinados hoje já estão fora do programa. Então o que há em ser determinado, persistente?

Ora, vejamos quem são os maiores propagadores dessa idéia novamente. Artistas e famosos. O que todos eles tem em comum? O tamanho do Ego. Não é de admirar que eles tenham abraçado com tanta vontade essa definição pessoal. A filosofia desse pensamento carrega duas engrenagens de conforto para o pensamento humano. A primeira é a cultura do mérito próprio. “Não há almoço grátis”. Aquela cultura que nos persegue desde o dia em que nascemos e temos que chorar para mamar, temos de ser obedientes para não ficar de castigo, temos que tirar boas notas para ganhar presentes e etc... Alguns podem dizer que essa não parece ser um mecanismo de conforto, mas é mais confortável saber que somos donos do nosso próprio destino e que sorte, azar ou mesmo Deus são cartas fora do nosso baralho da vida. Isso é o mesmo que o...

...segundo mecanismo: A facílidade de “quem procura, acha. Quem busca, alcança”. Eu só preciso me esforçar, trabalhar, me dedicar e tudo o que eu mais desejo será conquistado. Em outras palavras tudo depende de mim. Se está em mim, depende apenas de disciplina, de virtudes pessoais que só preciso desenvolver, assim posso chegar onde quiser. E se eu algum dia alcançar o sucesso é por minha própria causa. Embora o dito popular “Deus ajuda quem cedo madruga” persista em existir, é pura retórica, já arrancamos Deus do resultado de nosso trabalho a muito tempo. Tudo que eu conquisto foram as minha próprias virtudes que conseguiram aliadas, é claro, a minha determinação pessoal, força de vontade, força de realização. É pura ética behaviorista. A cultura do mérito próprio que nos faz girar em círculos. EU faço e acontece, EU busco e EU acho, EU luto e EU ganho, EU, EU, EU.

Isso é o que acontece quando olhamos para o mundo como um uma realidade pessoal a ser conquistada pela minha pessoa. Isso nos torna solitários. Talvez seja por isso que artistas não são bons em relacionamentos pessoais. Talvez seja por isso que alguns dos que se auto-proclamaram “determinados” no programa de TV tiveram problemas com relacionamento. Temos nos tornados cada vez mais individualizados em nome de nós mesmos.

Embora digamos que “Deus ajuda quem cedo madruga”, isso não tem sido verdade, nem de um jeito nem de outro. Embora Deus esteja na frase, o que queremos dizer com ela é: “porque sou assim, Deus me ajuda”. Em suma a glória do EU. Enquanto criamos que Deus estava no comando do mundo O usamos para alcançar nossos próprios intentos e propagamos tudo aquilo que é contra Ele em nosso período escuro. Depois colocamos todas as fichas no homem, e ascendemos a razão no topo de nossa doutrina de vida. Mas também nos decepcionamos quando vimos que nossa razão nos arrastou para guerras e ogivas nucleares. Agora já não nos resta nada, não temos mais em quem confiar, é bem nesse momento terrível que resolvemos então perpetrar nosso circulo vicioso e colocarmos mais uma vez todas as fichas no lugar errado, no EU. Mais individualizados do que nunca falamos de globalização, mas a intenção é uma só, a Glória do EU. Somos pós-modernos, somos niihilistas e temos certeza que com determinação chegaremos lá. Não queremos mais interferências da igreja, do estado ou de Deus, estamos sozinhos e sozinhos vamos conquistar o mundo. Só tem um problema pra que EU vença é preciso que você perca.

Em outras palavras o homem não pode resolver o seu próprio problema, nem com determinação, nem com persistência, nem com tenacidade, o que vamos fazer? Eu prefiro confiar nAquele que extrapola minha existência. Já faz anos que demonstramos nossa ignomínia, embora sejamos determinados.

Se Deus existe amigo, porque não deixa-Lo ser Deus dos homens?

sexta-feira, junho 01, 2007

Video Game X Cristianismo?!?!

Estou a milhares de dias sem postar nada por completa falta de tempo. Entretanto, recentemente tive um artigo publicado na Revista Kerygma, que gostaria de compartilhar com vocês. Esse artigo é apenas um resumo de um trabalho mais exaustivo e detalhado que se encontra em confecção. Segue, abaixo, o link do artigo:

http://www.unasp.br/kerygma/opiniao07.asp

Lembrando que por ser uma revista Teológica o conteúdo é segmentado a cristãos. Com isso em mente, comentem e deixem suas opiniões.

Até breve.

domingo, março 11, 2007

O País do Carnaval.




Hoje na sala de aula estávamos discutindo a educação no Brasil. A filha de um de nossos professores, por volta da idade juvenil, chegou em casa com um dever de casa, uma pesquisa para ser mais exato, sobre um determinado assunto. Ela chegou reclamando do objetivo e método da professora. A pesquisa era a seguinte: Entrar num site especifico da Internet, copiar uma página e colar no trabalho. Pronto.

Tanto o pai como a filha ficaram impressionados com a falta de didática que levantou certos questionamentos por parte da menina. Primeiro: se a professora já leu o texto, porque quer mais uma cópia vindo de cada aluno? Segundo: Se ela já conhecia o texto porque não mostrou pros alunos na aula? Terceiro: Se copiar e colar não é ler, para que servirá o trabalho? Quarto: Porque os pontos serão dados de acordo com o capricho e não com o volume de conteúdo explorado, por exemplo? Podíamos ficar horas aqui elaborando indagações para a pedagogia desta professora, que representa todo um sistema educacional que se repete a anos. Eu e você provavelmente vivemos essa maldita realidade, e nossos filhos continuam vivendo a mesma. Desde os dias de nossa infância que nas datas comemorativas são exigidas figuras cortadas de um jornal ou revista e coladas nos trabalhos caprichados. Hoje a única coisa que mudou é que não se tira mais de jornais, mas da Internet. O principio emburrecedor permanece o mesmo. Não nos ensinam a pensar.

Porque não incentivamos a pesquisa e a busca pelo conhecimento? Porque não ensinamos os alunos a pensar por sí? Porque não ensinamos a pescar, em vez de pedir um peixe da peixaria? E por último, porque Meu Deus, porque, premiamos o capricho estético em detrimento do conhecimento? Só encontrei uma resposta para essas indagações. Somos o País do Carnaval. Nossa preocupação com a cultura e a artes são maiores do que o nosso compromisso com o conhecimento ou desenvolvimento. Nosso turismo sexual é mais famoso que nosso futebol. Americano pode não entender nada de Soccer, mas de brasileiras eles entendem.

Outro dia minha noiva estava com amigas em um restaurante nos EUA e o garçon logo tentou descobrir de onde elas vinham. Quando recebeu a “doce” resposta “Brazil”. Logo demonstrou seu profundo interesse. A primeira pergunta dele foi: “É verdade que as brasileiras gostam dos americanos?” A essa pergunta seguiu-se outros comentários sobre as mulheres brasileiras e uma promessa de vinda aqui. Ele contou que estava planejando com uns amigos, vir ao Brasil para trabalhar com uma ONG nas férias. Duvido muito que ele saiba o nome do novo técnico de nosso time de futebol, ou mesmo o fato de já não estarmos mais no topo da lista da Fifa há um mês. Mas ele sabe de quatro coisas: 1- O Brasil precisa da ajuda de ONGs por falta de recursos internos. 2- O Brasil tem mulheres que prestigiam seus turistas. 3- Somos festeiros. 4- Temos sexo fácil e barato aqui. É ou não é o país do Carnaval?

Outra evidência de nosso comprometimento com o fútil e com a festança foram as nossas passeatas anti-Bush. Fechamos a Avenida Paulista, tacamos pedras e paus na polícia, queimamos bonecos do Bush e gritamos palavras de ordem. Para que? Porque? Que palhaçada foi essa? Queremos condenar, fechar avenidas, agredir e gritar pela passagem de um dia do Presidente americano, mas cooperamos e corroboramos com a presença por 8 anos de Lula na Presidência do nosso país. Pintamos a cara, pintamos faixas, saimos só de calcinha nas ruas, protestamos por uma causa perdida e que nem é nossa, enquanto nossas próprias causas são abandonadas ao descaso.

Ninguém saiu na rua pra protestar quando Lula deixou que Evo Morales roubasse nossas instalações da Petrobrás com armas na mão. Ninguém se importou com isso. Mostramos até mais interesse quando a questão era cercear o direito do cidadão de possuir uma arma. Talvez se nos preocupássemos mais em educação decente ou em desenvolvimento, tivéssemos mais recursos e menos ONGs Americanas. Talvez com mais conhecimentos seriamos mais capazes de combater a violência e o tráfico de drogas. Mas parece que só queremos festa.

João Helio, com seus 6 anos, pode até ser arrastado pelas ruas que nosso carnaval fica intacto. Saímos aos montes nas ruas, não para reivindicar, mas para farrear.


Ninguém saiu na rua pra protestar contra a corrupção galopante de nosso congresso. Ninguém tacou uma pedra em José Dirceu. Ahhh, mas quando Bush veio aqui, fizemos questão de demonstrar quem somos, somos brasileiros do País do Carnaval!!!