quarta-feira, julho 04, 2012

E Se A Eternidade Já Começou?



Eu sempre acreditei, e acredito que não estava sozinho nisso, que ao chegarmos ao céu nossas vidas seriam zeradas. Sim que a história da minha vida seria re-escrita, começando novamente. Como se todo o passado fosse apagado e agora uma folha em branco me fosse dada para começar minha nova vida celestial. Esse pensamento era proveniente da ideia de que no céu não haveremos de ter lembranças da Terra.  Sofreríamos uma espécie de amnésia celestial. Uma espécie de lobotomia divina capaz de nos fazer esquecer o mal que vivemos e causamos nesta Terra. Um reboot.

Entretanto, descobri com o tempo e a Bíblia que esse pensamento estava muito errado. Percebi que a manutenção da liberdade por toda a eternidade e a ausência, também eterna, do mal só poderiam ser consequência de uma vida que lembra sim, dos efeitos da maldade. A completa aminésia do período terreno apagaria toda a experiência que obtivemos neste mundo caído. Que por pior que seja, guarda recordações imprescindíveis como o fato de termos estado terminantemente perdidos, e termos sido salvos pelo próprio Deus. Cuja salvação se processou com a morte substitutiva de Sí mesmo pela raça caída. Perderíamos a visão impressionante dos livramentos que Deus nos deu aqui. Da maneira como nos perdoou e esqueceu as maiores atrocidades que cometemos. Esqueceríamos que passamos pelo vale da sombra da morte, mas Ele estava conosco e que mesmo em meio a lama do pecado Ele veio aqui nos resgatar dessa condição. Sem a experiência terrena a canção dos santos não teria sentido e nos esqueceríamos que digno é o Cordeiro que foi morto pela transgressão de muitos. 

Com isso em mente eu percebi que a eternidade já começou. Percebi que minha experiência na eternidade já está sendo construída nas escolhas que eu já estou fazendo. Que minha vida não sofrerá um reboot. Pelo contrário, no céu eu dependerei daquilo que eu vivi aqui. E minha vida lá terá consequências baseadas no que eu já faço com minha vida agora. Isso mexeu muito comigo. Isso significa que meu legado já começou. Meu legado eterno. O que eu faço aqui vai me acompanhar pelo resto da eternidade. Ficarão no registro de minha experiência com quem me casei, meus filhos, como os tratei, minhas amizades, as escolhas que fiz aqui na Terra, o caráter que construí, o bem que eu fiz e até o mau que causei. Quer um exemplo? Paulo. 

O personagem bíblico Paulo, nunca teve a sua faceta “Saulo” apagada. As mesmas escrituras que registram Paulo como um servo de Deus obstinado na pregação do evangelho e um homem que sofreu grandemente pelo Senhor, também registra sem dó nem piedade que este também foi um perseguidor da igreja, responsável pela morte de verdadeiros fiéis de Deus. A Bíblia não esconde que ele compactuou com a morte do santo Estevão, e que ele “respirava ameaças de morte” contra os santos. O próprio Cristo lhe diz sem rodeios, “Você me persegue”. Um registro que se eu fosse Paulo gostaria que fosse esquecido. Pense em quem Paulo era no fim de sua vida. Respeitado, amado, admirado, ele simplesmente não precisava desse tipo de “publicidade” que se lembrava de dizer em alto e claro tom o que ele tinha feito contra Deus, como perseguidor e aliado de satanás cuja mão repousava o sangue de santos e fiéis. Pessoas menos inteligentes e estudadas que ele, mas que no entanto, estavam do lado certo da batalha antes mesmo que ele pudesse perceber com toda a cultura e pompa que tinha que lado estar. Podíamos ter ficado apenas com a imagem do Paulo teológicamente profundo, o admirável homem de dores, que sofreu pelo Senhor com glória. Que testemunhou a sábios e filósofos, reis e mercadores (empresários), um homem integro, fiel, amável, querido. Afinal, não é assim que gostamos que nos pintem?

Entretanto a Bíblia é de implácavel transparência e o próprio Paulo também.  Ele não esconde que era perseguidor. Não esconde que já esteve do lado errado da batalha. Ele assume o que era e quem se tornou. Seu legado é esse. E no céu, Paulo continuará sendo o Ex-Saulo de Tarso, ex-perseguidor da igreja. O convertido. Essa é sua experiência e tudo o que ele sabe a respeito de Deus foi percebido nessa vida por meio dessa condição. Por todo infinito ele pregará sobre o amor de um Deus que levou ao céu e a eternidade aquele cuja vida, ceifou a de outros que agora também habitam a eternidade. Vejo Paulo ao lado de alguém como Estevão. E como uma cena dessas diz muito sobre o amor de Deus!  A parte ruim da vida de Paulo ainda está e permanecerá registrada, e isso será benção e não maldição. Entretanto, o fato incontestável está. Nossa experiência eterna já começou. A vida que vivemos agora é parte da vida que teremos pra sempre.

Como isso é forte. Há muitos outros exemplos como Davi, Moisés, Elias, o ladrão da cruz e todos os outros. Isso nos faz pensar: Como são profundas as escolhas que eu já estou fazendo! Meu legado já tem uma parte escrita. O que eu continuo a construir nele? Cada escolha é importante se todas elas são eternas. Quando eu chegar a eternidade que história vou contar? Que experiência eu vivi aqui? Seja qual for, que ela seja construída com a ajuda de Deus. Que Ele seja a inspiração de suas escolhas. Porque o objetivo desta reflexão aqui é esta: apresentar o peso profundo e eterno de todas as nossas decisões. 

Se você está esperando a eternidade chegar, a novidade é essa, ela já começou para todos nós. Então que O Eterno seja a inspiração da sua vida, do seu legado.