segunda-feira, outubro 24, 2005

“Deus desapareceu no Ocidente”



Yusuf al-Qaradawi ao contrário do que possa parecer a primeira vista não é o nome de um novo terrorista islâmico. Trata-se de um Xeque renomado do Islã. Acadêmico e apresentador do programa Sharia e Vida, da TV Al-Jazira tem se apresentado como defensor de uma visão equilibrada do Islã e sua relação com o ocidente. Nesta entrevista, boa parte das perguntas que sempre sonhei perguntar a um oriental, é feita sem rodeio. É impressionante como o entrevistador consegue sintetizar nossas maiores curiosidades quanto à visão oriental do ocidente e a visão do Islã quanto aos extremistas de sua religião.

Não basta analisar o que Yusuf al-Qaradawi diz quanto ao Islã. É imprescindível avaliar o seu ponto de vista sobre nós ocidentais. Uma simples concatenada de suas palavras sobre o ocidente nos faz repensar nossos valores. É possível notar que não estamos tão longes um do outro. Parece até que um dia já fomos o mesmo povo. Talvez isso seja mesmo verdade. Talvez nossas raízes se cruzem em algum lugar. Só sei que enquanto nos modernizamos e crescemos em superioridade organizacional, tecnológica e cultural. Eles, que pareceram ter ficado estagnados, modernizaram-se (em parte) sem alterar seus valores morais. Não no sentido de que nossa sociedade ocidental tenha se corrompido moralmente (embora essa seja minha certeza), mas alterou-se extremamente renegando as nossas raízes mais longínquas. Que, diga-se de passagem, nos ligava ao oriente. Toda essa distancia se agrava ainda mais quando olhamos com superioridade os que ficaram para trás tecnológica e sócio-culturalmente, entretanto o efeito colateral de tal pensamento se reflete na mesma soberba do lado oposto. Eles se gabam de sua fidelidade a moral, portanto superioridade nesse aspecto.

O fato é que aquilo que desenvolvemos com superioridade quer ser assimilado (sem adições morais) pelo lado oriental. Sem o uso da força (interferências internacionais como a ocupação Americana. Que é o reflexo desse complexo de superioridade que o ocidente ostenta). Assim como nós, ocidentais, podemos assimilar novamente (também sem o uso da força – Sem terrorismo) aquilo que perdemos com nosso desenvolvimento: Parte de nossa moral. E é exatamente essa falta que nos leva a inimizade com o Oriente.

Ambos os lados devem se abraçar, a questão é como. Conscientização dos dois lados é a solução. O Xeque parece já estar fazendo a sua parte. Veja trechos da entrevista abaixo:

Que diferença faz, para uma criança morta por uma bomba no Iraque, na Chechênia ou em Israel, o fato de o assassino ser um terrorista ou um combatente de resistência?

Apenas para evitar mal-entendidos: no Islã, existem regras claras para proteger os civis, mesmo em tempos de guerra. Não se permite que pessoas não envolvidas na luta sejam atacadas. Quando o Profeta soube que uma mulher fora morta durante uma batalha, ficou furioso e emitiu ordens que ainda são seguidas hoje: nunca matar mulheres, nunca matar crianças, nunca profanar os mortos. Nesse édito, fica claro que é um crime transformar aviões lotados em mísseis e usá-los para destruir edifícios.

Por que nenhum juiz ou lei muçulmana expulsou oficialmente Bin Laden e seus seguidores da religião?

Condenamos seus atos, mas oponho-me categoricamente à idéia de expulsão. Expulsá-los seria cometer o mesmo pecado que eles cometem: eles querem transformar a nós e seus outros críticos em hereges. Chegará o dia em que terão de submeter-se ao cádi (juiz islâmico), mais ainda não avançamos tanto. Primeiro temos de decidir quais deveriam ser seus juízes.

E quanto a Zarqawi, que não só decapita vítimas indefesas, como também filma os assassinatos?

Ele trouxe ao Islã a maior vergonha imaginável. Para nós, é um criminoso. Nunca será demais condená-lo.

Os clérigos islâmicos ortodoxos não teriam perdido sua autoridade?

De modo nenhum. Há um novo espírito no Islã que se volta contra os excessos do modernismo, mas também contra o radicalismo exagerado. Também somos modernos e também lucramos com as grandes invenções que vieram do Ocidente, com a revolução da era da informação e a comunicação global.

No entanto, apesar da superioridade tecnológica do Ocidente, vocês se sentem moralmente superiores.

Condenamos o materialismo excessivo do Ocidente. Deploramos a perda da solidariedade e da fraternidade, a decadência da moral e as violações diárias da dignidade humana. Deus desapareceu - quase todos no Ocidente deixaram de falar sobre Ele. Há um ano, houve uma manifestação contra mim em Londres porque falei contra a homossexualidade. As pessoas parecem ter esquecido que não fui eu quem criou esse modo de pensar. É parte da ordem de Deus transmitida por Moisés e mencionada até por Jesus.

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Neste parágrafo é preciso abrir um parênteses. Note que a condenação do materialismo é uma prática que vem se tornando comum em nosso meio ocidental. Uma tendência de “volta as origens” quando o que ditava as regras de consumo era a necessidade. A compra de itens irrelevantes é cada vez mais tachada por aqueles que se consideram um pouco mais pensantes em nossa sociedade ocidental (embora muitos façam isso por puro modismo). Com isso notamos que um dos pontos de discussão deles pode ser racionalmente debatido dentro de nossa sociedade sem maiores crises.

A falta de solidariedade e a fraternidade têm se tornado uma realidade no ambiente competitivo e individualista da pós-modernidade em globalização. A decadência moral é galopante, entretanto para alguns isso é uma questão de ponto de vista.
Quanto as “violações diárias da dignidade humana” é uma verdade tão relativa que eles próprios, com suas leis islâmicas, podem se enquadrar neste aspecto também.

É impressionante como que nas frases seguintes desta resposta do Xeque encontra-se uma enorme verdade que nos passa desapercebida. O ocidente abandonou a sua crença em Deus. Os direitos “humanos” atropelaram os conceitos morais da fé Cristã. O mais impressionante disso tudo é que os ocidentais são em sua maioria Cristãos. Nesse aspecto Yusuf al-Qaradawi demonstrou maior crença nos ensinos de Cristo do que nós Cristãos-ocidentais. Que em nossa modernização nos secularizamos indiscriminadamente. A um ponto tal que somos capazes de engarrafar nossa fé dentro de nossos novos valores éticos que centralizam o Homem como o ser mais digno de respeito do universo. Assim, subjulgamos Deus e Seus "caprichos" (leis morais) aos nossos valores distorcidos.

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Em Berlim, um pregador muçulmano foi filmado recentemente afirmando que os cristãos não tem o direito de ir para o céu.

Isso é totalmente absurdo e inaceitável. Todos os devotos das religiões reveladas - muçulmanos, cristãos e judeus - vão para o Paraíso se forem honrados e acreditarem em Deus. Tampouco existe algo dizendo que eles não podem viver uns entre os outros nem se casar. Mas isso, é claro, não muda o fato de que o Islã é uma religião que oferece a salvação a toda a humanidade.

Por essa eu não esperava. A mesma mentalidade Cristã-moderna permeia o pensamento muçulmano. “Todos podem ser salvos.”

Graças a seus programas semanais na TV Al-Jazira, o sr. se transformou numa personalidade importante para milhões de muçulmanos na Europa. Eles devem obedecer ás leis dos países onde vivem, sem exceções?

A fim de resolver esse problema, fundamos o Conselho Europeu para a Fatwa e a Pesquisa - do qual sou diretor - há oito anos, em Londres. A cada conferência, conclamamos os fiéis a obedecer ás leis dos países onde vivem. Eles se comprometeram a fazer exatamente isso quando foram para a Europa. E também são obrigados a respeitar a propriedade dos não-muçulmanos. Onde quer que vivam, os muçulmanos têm a obrigação de integrar-se á sociedade - e aceitar aquilo que a sociedade exige deles - sem abandonar sua fé.

[ Reportagem de Der Spiegel publicada na edição de domingo (23/10/2005) do jornal Estado de São Paulo. ]

sábado, outubro 22, 2005

VOTO SIM OU NÃO?

Bem vindos ao primeiro dia do Blog.
Diante de tantas mudanças que o mundo vem presenciando faz-se necessário um olhar atento e cuidadoso sobre tais mudanças. Neste espaço pretende-se falar sobre o contexto moderno da humanidade. Principalmente do Brasil. Afinal, não importa como o mundo muda é em nosso lar que recebemos o impacto e entendemos que algo mudou.
Basta lembrar de 11/09/2001. Que ocorreu a mais de 26.000 km do Brasil. Pode parecer que nada mudou para nós, entretanto até mesmo as guerras que se sucederam após o evento em voga nos afetaram psicologicamente, mudaram nosso modo de ver o Islã, os EUA e dificultou nossa entrada no pais do WTC. Tudo isso molda nossa cosmovisão e são pertinentes a esse blog.

Religião é sempre a melhor discussão que há. Teologia e Filosofia são ferramentas excênciais para compreensão do contexto moderno.

Curiosidades engraçadas e pertinentes para melhor compreensão do nosso contexto sempre serão bem-vindas e estarão disponiveis nesse blog.


Pra começar vamos falar sobre o Hilário Referendo que o governo Brasileiro está promovendo em nome da Pseudo-democracia, ou Democracia da minoria. O texto em questão recebi pelo e-mail e reflete meu ponto de vista.

MUDEI DE OPINIÃO

será?

Antes, eu tinha certeza de que ia votar no NÃO e ninguém ia me convencer do contrário. Mas o tempo foi passando, entrei nas comunidades do SIM e do NÃO no orkut, ouvi propagandas no rádio e na TV e os argumentos do SIM me convenceram. Vou votar SIM. Sabe porque? Vou dar 18 motivos.

1. Descobri que a arma legal alimenta os bandidos. Todas aquelas AR-15, AK-47, granadas e bazucas que os traficantes do Rio usam foram roubadas de cidadãos honestos que compraram as armas legalmente. Da minha casa mesmo, por exemplo. Ano passado me roubaram quatro mísseis Stinger;

2. Descobri que todos os pais que têm armas de fogo costumam deixá-las carregadas e engatilhadas em cima do sofá da sala. Por isso que 94 milhões de crianças brasileiras morrem brincando com armas de fogo todos os anos;

3. Descobri que todos os assaltantes de casa têm super-poderes. Eles atravessam portas e paredes e se materializam imediatamente na sua frente e apontam uma arma para a sua cabeça enquanto você ainda está deitado, tornando impossível qualquer reação. Eles não perdem tempo e fazem barulho arrombando portas;

4. Descobri que a chance de se sair bem ao reagir a um assalto é de uma em 288.345.774.324.500. As estatísticas provam que nos outros 288.345.774.324.499 casos, a vítima que reagiu morreu;

5. Descobri que se eu vir ou ouvir algum bandido pulando a cerca e entrando no meu quintal, eu não vou conseguir afugentá-lo com um tiro para cima ou para o chão. Se ele ouvir o tiro, aí sim, é que ele vai ficar excitado e vai querer de toda forma entrar em casa e trocar tiros comigo. Eles adoram fazer isso;

6. Descobri que se o NÃO ganhar, as armas de fogo vão imediatamente ficar 90% mais baratas e vai acabar a burocracia para a compra de uma. No dia seguinte à vitória do NÃO, qualquer pessoa (bandido ou não) vai poder ir numa loja de armas, comprar um 44 e oito caixas de munição, já vai sair armado e vai para o bar mais próximo para arrumar briga e me matar;

7. Descobri que delegados e policiais civis militares e federais, que são em quase totalidade favoráveis ao NÃO, não entendem N-A-D-A de violência e criminalidade. Quem manja mesmo do assunto são atores, sociólogos e dirigentes de ONGs internacionais;

8. Descobri que estrangeiros que lideram ONGs como a Viva-Rio têm muita experiência no assunto. Afinal, todo mundo sabe que a situação social, econômica e de criminalidade da França, Inglaterra e Estados Unidos (que é de onde eles vêm) é IGUALZINHA à realidade do Brasil. Não tenho a menor dúvida de que as teorias que eles têm vão funcionar direitinho aqui;

9. Descobri que 90% dos casos de homicídios são cometidos pelos chamados cidadãos de bem. Claro que isso é só dos homicídios ESCLARECIDOS, que são menos de 5% dos casos. Mas pela lógica, os outros 95% dos homicídios, que não são esclarecidos, também devem ser causados pelos cidadãos de bem;

10. Descobri que o governo quer que a gente vote sim. E o governo sempre pensa no nosso bem. Afinal, todo mundo sabe que a qualidade da saúde pública, ensino público, segurança pública, etc. vêm melhorando cada vez mais, dia a dia;

11. Descobri que se o SIM ganhar, não vão mais acontecer mortes banais. Maridos ciumentos só vão agredir as mulheres com travesseiros, torcidas organizadas vão se dar as mãos, facas e canivetes vão perder o fio, tijolos e paus vão ficar macios e os pitboys vão abandonar a prática violenta de artes marciais e se converter ao budismo;

12. Descobri que até agora, o desarmamento voluntário já deu resultados. É claro que a queda nos atendimentos dos postos do SUS em São Paulo nos últimos 12 meses foi devida à diminuição do número de armas, e não devida a maiores investimentos em segurança e educação;

13. Descobri que o jovem é a principal vítima da arma de fogo. Claro que isso não tem nada a ver com o fato de o jovem ser o maior usuário de drogas, e nem o fato de que quase 100% dos envolvidos no tráfico de drogas têm menos de 30 anos (porque morrem ou são presos antes). Isso é só coincidência;

14. Descobri que todo mundo que tem arma de fogo é um suicida em potencial. E a única causa do suicídio é a arma de fogo, e não a falta de perspectiva, falta de um ideal, falta de um sonho a buscar ou então distúrbios mentais como a depressão;

15. Descobri que se algum bandido invadir a minha casa, basta eu ligar para o 190. A polícia sempre tem homens e viaturas sobrando e levará menos de 3 minutos para me atender;

16. Caso isso não aconteça, basta eu fazer o sinalzinho do "sou da paz" com as mãos e o ladrão vai saber que eu sou um sujeito legal, e então ele vai embora em paz sem levar nada e sem violência nenhuma. Eles sempre agem assim quando descobrem que você é da paz, e não um daqueles psicopatas malvados que são a favor do NÃO;

17. Caso o ladrão seja muito, mas muito malvadão, eu só preciso gritar por socorro. Em cinco segundos vão aparecer a Fernanda Montenegro, a Maitê Proença e o Felipe Dylon para me salvar e prender o bandido. Sem usar armas. Êêêêêêêêêêê!!!

18. Se o SIM ganhar, o Brasil vai ser um país mais feliz. Que nem na novela!

Perfeito!!!