sexta-feira, janeiro 11, 2008

"100" Razões para uma Vendetta


Para compensar minhas férias aí vão dois posts de uma vez. Feliz 2008 a todos!

"A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena". Quem não conhece essa máxima ou é muito novo ou muito velho, ou talvez não gostasse de Chaves. Mas independente do apreço pelo velho seriado mexicano, todos nós temos algo em comum. O desejo de vingança. Natural e comum, ele nasce do desejo pessoal que todos tem em encontrar justiça. Mesmo aqueles que talvez neguem ao desejo de vingança a sua existência, por razões conceituais, morais ou religiosas, precisam assumir que estão reprimindo (ou já reprimiram em definitivo em algum momento anterior) um desejo automático, quase fisiológico.

O Cristianismo apela contra a vingança nas palavras de muitos autores incluindo Jesus. O argumento do Cristianismo é que cabe ao Juiz fazer justiça. Estes são os lideres e autoridades de nossas sociedades (Rom 13). Ou mesmo o Deus Criador (“A mim pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. Rm 12:19). Tudo bem, eu sei que toquei num ponto controverso aqui. Alguns duvidam da existência de Deus outros argumentam a favor da sua ausência em nossa realidade. Mas independente do que se pensa sobre Deus, encontramos na própria necessidade de justiça um estranho sentimento inato. Quem nos deu essa necessidade de justiça? Da onde ela vem? Por que o homem se atreve a sentir-se injustiçado? O fato é que sem Deus não encontramos muitas explicações para isso, Freud até tentou, mas C.S. Lewis derrubou seus confusos argumentos. Até o próprio Freud admitiu que “o impulso em direção ao ideal faz parte essencial de nossa constituição”. Mas deixando a questão do Teísmo de lado, foquemos no desejo de vingança.

5 Razões Por que a Vingança não compensa:

OBS: Usarei a Nomenclatura "Algoz" para o ofensor que merece receber a vingança e "Vítima" para o ofendido que deseja se vingar.

1 - Circula a injustiça viciosamente.

Quem é lesado sempre calcula uma parcela maior de justiça contra seu algoz. Isso é natural. Não queremos fazer ao outro exatamente o que ele nos fez, mas fazer um pouco mais. Essa semana vi na TV alguém dizer que “quem faz o mal recebe de volta em dobro”. Achei engraçado, quem foi que disse isso, de onde o locutor tirou essa idéia? O direito de milhares de anos tem se apoiado no antiqüíssimo e Hamurábico código replicado também pela Bíblia, do “olho por olho e dente por dente”. Mas parece que nossa sociedade moderna já tem se apropriado de um conceito de justiça que duplica a pena do algoz em nome da justiça. Esse é um bom exemplo de como temos a tendência de supervalorizar nossa dor e nosso desejo de vingança. O que aconteceria se alguém levasse a cabo a suas demandas pessoais de vingança?

É bem óbvio, o algoz, agora ferido “justamente” se acharia injustiçado pelo excesso de “justiça” e tentaria re-equilibrar a balança da justiça. Assim se inicia um circulo vicioso de destruição que só acaba com completa derrota de um dos dois algozes.

2 – Iguala os atuantes.

Sim, os dois são algozes agora, porque um é perpetrador do mal do outro. Se igualam por que um excede a causa de justiça do outro e ambos são transgressores da verdadeira justiça, que teimam em “defender” em nome de seus próprios interesses.


3 – Impossibilita a verdadeira justiça.

A dor intentada contra o algoz não surte o mesmo efeito nunca. Por exemplo, um amigo traído jamais conseguirá se vingar do ex-amigo na mesma forma e proporção necessárias porque ele simplesmente não é mais amigo do traidor. Isso muda tudo. Ninguém pode nos magoar mais do que quem amamos. Uma vez destruída a relação, não há a mesma confiança, não há sentimento de apreço, há uma relação de inimizade e o algoz provavelmente já estará aguardando uma digna retaliação o que tira todo o elemento surpresa e os efeitos devidos da ação contra ele. Afinal de contas, você sofre por que foi traído por quem amava, se você atacar agora, ele não sentirá a mesma dor porque já provou que não te ama. Retaliação nesse caso, é um tiro de chumbo comparado a uma bala de canhão.

Em alguns casos a vingança pode impossibilitar, definitivamente, a verdadeira justiça. Um exemplo disso é quando o marido se divorcia da mulher e ela por vingança tira tudo o que ele tem na justiça. O que parece ser justo, se demonstra injusto, porque o que ela perdeu foi uma afeição e tentou compensar com bens, o que pode ser um placebo imediato, mas que nunca preencherá o vácuo aberto pelo problema real: uma traição afetiva e não litigiosa. Uma traição afetiva só pode ser compensada justamente quando o algoz volta atrás e reconhece o verdadeiro valor da afetividade que ele pos a perder. Independente se a esposa aceitasse seu retorno ou não, a sua justiça é saciada pela compreensão de que sua perda afetiva não decorreu de um erro próprio, mas alheio. No entanto, quando a esposa resolveu o problema de sua vingança através da divisão dos bens, pode ter dado o material necessário para que o algoz nunca venha a reconhecer o valor de sua antiga relação. Podendo ainda, encontrar mais razões para racionalizar sua ação anterior. E a justiça nunca se fará real neste caso.

4 - Faz mal ao vingador.

É obvio que uma operação vingativa estressa tanto quanto realiza. A saúde sente tanto que existe uma antigo ditado que diz que o “ódio e um veneno que você bebe esperando que o outro morra”.

Outro fator importante é a inferiorização da vítima. Ora, se um idiota te agride, e você revida, você está agindo motivado pelas ações de um idiota, o que te faz um... idiota. Se eu me comporto de acordo com as ações de outro, estou dominado por ele. Em outras palavras, o vingador é dominado pelo algoz que dita suas ações. Podendo se tornar, inconscientemente, o perpetrador de suas emoções e decisões.

5 - Desequilibra o atuante.

Maturidade é a capacidade de lidar com perdas e ganhos. Se um rio recebe mais água que elimina, vai transbordar, isso é desequilíbrio. Se perde mais água do que recebe, seca, isso também é desequilíbrio. A consciência equilibrada entende que na vida há derrotas, perdas assim como ganhos e vitórias. Não se desesperar por uma perda, seja ela quão grande for, é uma atitude madura e equilibrada. Ter a consciência de que o mundo não acaba em uma perda é o essencial para se manter no jogo por muito tempo.

6 maneiras práticas de dominar o desejo de vingança:

1 - Entenda as 5 razões anteriores.
2 - Não deseje o mal, apenas a justiça, seja ela qual for, mesmo que diferente e independente do seu desejo.
3 - Lembre-se que toda justiça deve se aplicar em ambos os casos. Ou seja: coerência. Então aprenda você também a não se igualar ao seu algoz. Não espere de Deus uma justiça diferente para você e outra para o algoz.
4 - Seja paciente.
5 – Não perca seus pensamentos no assunto. Sem isto, será impossível superar a situação.

6 – Confie em Deus. Pra mim esse é o primeiro, mas para não gerar “pré-conceitos”, deixei aqui no fim da lista.

Por fim, esse não é nenhum "Guia Definitivo", nem falo com a autoridade de um terapeuta, falo apenas pela experiência própria. Para mim é menos complicado, resumo a questão em "deixar Deus ser Deus". É bem mais simples que tentar ser Deus no lugar dEle. Confio no verso 25 de Genesis 18: "Por acaso não fara justiça o Juiz de toda Terra"?

Mas pra você que não desiste dessa idéia de vingança, pense comigo... até hoje não conheci ninguém que tenha escrito um livro: "Me vinguei e mudei de vida" ou "Quem mexeu no meu queijo, morreu" ou quem sabe "O monstro e o Executivo". Já ví filmes e novelas fictícias contando belas histórias de vingança, mas quem que eu conheço que realmente se beneficiou com isso? Que história real demonstra o poder redentivo, restaurador e curativo da vingança? Talvez, no fim de tudo, a razão esteja com aquele velho ditado: "Vingança é um prato que se come frio". Afinal, o único objetivo de um prato frio, é saciar a fome.

Nenhum comentário: