Dexter, é um seriado para quem não tem estomago. Pra falar a verdade, é preciso não ter mais algumas outras coisas também... Eu sei que vou revoltar alguns fãs (talvez vão querer me esquartejar), mas é só por que são fãs que se sentirão assim. Já compraram a sandice como entretenimento. Preciso confessar aqui, para que fique claro aos leitores, que me entreti muito com a série também. Não foi atoa que assisti até boa parte da segunda temporada. Entretanto, basta uma breve analise nos argumentos e não se poderá escapar da sensação de vômito (perdoem minha falta de eufemismo). Dexter é um entretenimento irresponsável.
Imagine um menino adotado que se descobre um psicopata ao desmembrar animaizinhos. Seu pai, um policial de Miami, percebe e começa ajudar seu filho a lidar com o problema. Ele começa ensinando o menino a se portar e se encaixar na sociedade, dando a ele um conjunto de valores e códigos que ele segue por puro condicionamento. Como psicopatas não sentem emoções, é uma tarefa difícil para ele se adaptar. O pai logo descobre que não poderá conter os instintos de seu filho por muito tempo e decide ajudá-lo a canalizar esses impulsos. Ensina o seu filho a matar e não deixar rastros. E matar somente aqueles que “merecem”, ou seja, assassinos, psicopatas e serial killers, como ele mesmo. Só não é mais fascinante porque é sórdido. Dexter, trabalha na policia fazendo a analise de sangue das cenas do crime. Mas ele mesmo é um assassino que deveria ser preso e quem sabe até executado, pelas leis americanas. Ele espreita suas vítimas, sempre com o argumento absurdo de ter uma boa razão para isso, afinal de contas ele só mata parias da sociedade. Ele prepara a cena do crime, as amarra sem roupas com uma fita adesiva transparente, faz seu pequeno show, dando argumentos para a vítima e pro expectador, escolhe a arma (sempre objetos de corte ou perfuração) e inicia o que ele mesmo chama de “ritual”, executando com sadismo as vítimas. Que sempre saem de cena dentro de vários sacos. Dito isto, considere, esse cara é o herói da trama!
Alguns dos detalhes abomináveis que gostaria de ressaltar: A sua primeira vítima foi a mando de seu pai que estava hospitalizado e dizia que sua enfermeira o estava drogando até a morte. Boa desculpa, não? Não! Bem, ele pega a velhinha, coloca pelada na mesa ritual, faz ela implorar pela vida e depois enfia-lhe uma faca até que o sangue jorre em sua roupa. Outra cena interessante é quando ele vai matar um rapaz, que ele pensava ser um serial killer, que por sorte no último segundo, explica que havia sido traumatizado por um estuprador na infância e por isso o matou a facadas. Ele estava para fazer “justiça”, mas parece que não era bem justiça assim. E se o menino não tivesse tempo de avisar? Teria sido esquartejado. Detalhe, o rapaz já tinha passado alguns anos na cadeia, pagando pelo que fez. A última cena que me impressionou foi a de um casal de “coiotes”, que matavam os cubanos que não pagavam a taxa de libertação ao chegar nos EUA. Ele matou os dois juntos, um assistindo a morte do outro, ao som de gritos de “eu te amo”, o que é extremamente cruel, sem a menor cerimônia. Só pra você não esquecer, esse cara é o Herói!
Como se não bastasse, o pai de Dexter o ensina a ser furtivo com a desculpa de ensiná-lo a sobreviver a cadeira elétrica. Em suma, o código de valores do pai diz que se seu filho for um monstro, ainda que mate muitas pessoas tem de sobreviver. Ele irresponsavelmente cria um monstro e o solta na sociedade. Dexter por sua vez diz não poder controlar sua necessidade de matar, isso é uma desculpa pra seus impulsos. Também agradece a um psiquiatra que o tratou, por tê-lo ajudado a aceitar quem ele realmente é, o esquartejando em seguida. Você acha que um psicopata deveria conformar-se com sua situação? Dexter também obstrui a justiça, cometendo crimes sérios dentro da corporação policial, como implantar evidências. E espera sinceramente que um Serial Killer continue solto a matar mais pessoas para continuar com seu mórbido fetiche competitivo. A glamourização é tão grande que a ultima morte que assisti, foi ao som de musica. Ocorre então a banalização da morte. A filósofa americana Sissela Bok, da Universidade de Harvard, nomeia essa circunstância de “fadiga da compaixão”, “um estado de espírito que torna possível testemunhar a brutalidade com distanciamento, sem envolvimento” (Super Interessante, 7 de Junho de 1999, p.p. 21).
Por fim, me pergunto, por que a sociedade americana se permite esse tipo de entretenimento? Por que num lugar onde pessoas pegam em armas e promovem o inferno, entretenimentos desse tipo são criados? Por que na terra dos serial killers esse tipo de entretenimento é impunemente promovido? O que garantirá que reprimidos psicopatas não saiam do armário, com boas desculpas para canalizar seus impulsos? Com tanta glamorização da sociopatia o que os impedirá? Talvez aquele que não soube do seu problema possa se reconhecer na tela, e em vez de buscar ajuda, tente se resolver como Dexter o faz. Sem ajuda profissional e cometendo crimes hediondos. Assim como pessoas normais são influenciadas pelo glamour da mídia, talvez, com quase certeza, psicopatas adormecidos não acionem algum botão que lhes destinará a reviver as “aventuras” de Dexter. Até porque, o personagem faz questão de ser desafiador e desafiar outros serial killers. É muito fácil se perguntar: “Quem será o melhor Serial Killer?” Pelo que aprendi do seriado, eles adoram competição. Numa competição de Serial Killers, quem você acha que vai sair perdendo? Engraçado, não fosse trágico e doentio. Eu já assisti mais do que deveria, pra mim chega!