sexta-feira, outubro 19, 2007

“Perdendo os critérios” – Ciência Moderna

Estive presente no I Seminário Internacional do Jesus Histórico na UFRJ. O convidado principal não foi ninguém menos que John Dominic Crossan, fundador do Jesus Seminar e um famoso acadêmico no estudo do Jesus histórico. É criticado por alguns quanto ao seu método, que parece ser o tendão de Aquiles de suas conclusões.

O seminário foi enriquecedor e espantoso. Espantoso porque descobri algo que não imaginava ter chegado ao ponto que chegou. A ciência está perdendo os critérios. Na busca de um discurso cada vez menos dogmático duas implicações devastadoras estão surgindo em direção ao método cientifico. 3 foram os casos analisados.

1 – Alguns pesquisadores escolheram citar textos de Jesus como sendo históricos e a outros textos do mesmo Jesus descartaram com base apenas no senso comum atual. O que não faz o menor sentido, tendo o texto sido escrito para uma audiência do I e II séculos d.C. Em outras palavras o que Cristo diz que corrobora suas idéias se sustenta sobre o Método Crítico Histórico, mas os textos irrelevantes para a idéia principal do pesquisador, ou mesmo que se oponham a ele, são descartados sem o menor critério.

2 – Outros pesquisadores basearam suas “descobertas cientificas” em fatores completamente hipotéticos. E ao menos, responsavelmente, assumiram tal dependência de hipóteses construídas sem evidência suficiente. Ou seja, estabeleceram todo uma pesquisa em bases instáveis (por não haverem comprovação alguma, apenas hipóteses teóricas) para concluir, no fim, aquilo que só poderia ser possível se comprovado fosse a hipótese, não provada, da base desta pesquisa. Assustadoramente especulativo.

3 – Por fim, o pior e mais medonho dos argumentos metodológicos da ciência que presenciei no evento: Mais de um dos palestrantes fizeram alusões ao pluralismo de idéias, a inexistência de verdades absolutas, mas verdades subjetivas. A materialização máxima do discurso anti-dogmático. “A ciência não pode ser dogmática”? Isso é uma grande ilusão pós-moderna. Afinal de contas quando se diz que a Ciência não pode ser dogmática, ou que não há verdades absolutas, ou que todas as verdades são subjetivas, então, estamos dogmatizando e estabelecendo a pluralidade de idéias como uma verdade absoluta (o que é extremamente contraditório com a própria proposta pluralista). Em outras palavras, não existe anti-dogmaticismo, mas sim oposição aos dogmas discordantes. O argumento do pluralismo não se auto sustenta. Um rio sempre tem 2 margens, não há como encontrar uma terceira.

O que nos traz a última das implicações desse discurso, a Ciência ficou sem critérios por não admitir a absoluta verdade. Embora esse discurso se baseie na constante evolução do conhecimento e das verdades cientificas no decorrer do tempo (aquilo que era verdade 50 anos atrás, hoje pode ser motivo de escárnio). Isso também é uma falácia, porque não se pode combater mentiras se elas não se posicionarem como verdades. A doutrina do pluralismo de idéias condena as boas idéias a se misturarem com más que nunca serão desmascaradas por nunca terem se apresentado como verdades incontestáveis. Faz parte do processo evolutivo cientifico que uma verdade se levante como absoluta para ser posta a prova e, se possível, seja combatida e substituída.

Há um outro fator problemático na questão de por especulações em posições de verdades cientificas para serem postas a prova. Como sua base é inconsistente, mesmo que resistam anos, serão frutos de estudos que não se saberá, talvez nunca, a relevância do tempo despendido nessa pesquisa. Ou seja, uma grande, e irracional, perda de tempo.

No fim esse é um problema encontrado nos egos humanos que não desejam ser contrariados, e prefere admitir verdades alheias como válidas desde que não se invalide a própria. Mas deixando de lado essa profundidade filosófica veja que a ciência está se transformando naquilo que mais odiou e repudiou desde seu nascimento. A fé cega. Fé cega na ciência. A mesma fé cega que a desconectou definitivamente da religião. Faz-se declarações “cientificas” baseadas em especulações infundadas, sem comprovação e tão relativas que me pergunto qual a relevância delas? Qual a relevância de pesquisas cientificas se a verdade absoluta não existe? Se o que ficará concluído é fruto da subjetividade da mente do pesquisador? Qual o objetivo da Ciência? Assim que a ciência reparar para o buraco que está descendo e começar a se fazer essas perguntas, quem sabe não vá sofrer uma crise de descrédito como o que a Religião vive hoje? Quem sabe não se auto-destrua? Espero que não. Mas não vejo relevância em argumentos subjetivos e especulativos, você vê?

3 comentários:

Thiago Rafael disse...

Sim, sim. A ciência se contradiz em suas próprias afirmações. Prefiro acreditar que existe um Deus e confiar nEle do que andar só por esse mundo.
Vi seu link na Conexão J.A desse trimestre e resolvi entrar. Se tiver tempo visite o meu também.
http://meumundonaoeaqui.blogspot.com/

Thiago Rafael disse...

Sim. Seu endereço está na Conexão JA desse trimestre na página 14. Tem até uma foto do seu blog lá! Pensei que você soubesse.
Pode acreditar em mim, palavra de desbravador.
Parabéns por seu blog ter ido parar na Conexão J.A. Quem sabe um dia eu consiga também.
Tenha uma boa semana.

Anônimo disse...

Aaah agora vou dar uma lida então! ;D hehe

Também acho que concordamos, a linguagem é realmente uma maneira muito falha de se comunicar!

A moeda não vai deixar de ser a moeda porque você está vendo só a cara ou só a coroa. Ela vai continuar a ter os dois lados.
Mas será que se ninguém pudesse ver o outro lado da moeda, ele existiria?
Você só tem 1,94 porque pode comparar com outras coisas, ou pessoas, e segundo uma media dizer sua altura. Mas se não existisse o que ser comparado, ou ninguém para observar, você continuaria tendo 1,94?
Se da noite pro dia, sem que ninguém percebesse, todo o universo crescesse com tudo que existe nele 5 cm. No dia seguinte você teria 1,99 ou continuaria tendo 1,94?

Quem faz a verdade? A coletividade a faz? Ou ela é independente de observador?
Tem um experimento na física quântica que traz essa duvida também, se chama "experimento da fenda dupla". Tem até alguns vídeos o demonstrando no youtube, se poder, dê uma olhada depois!