sexta-feira, outubro 05, 2007

Richard Dawkins está MUITO certo!

Ao analisar a obra mais famosa de Richard Dawkins, O Gene Egoísta, podemos ver a sistematização de uma realidade conhecida a milhares de anos atrás, o ser humano é egoísta por natureza. O irônico dessa constatação repousa no fato do resultado da pesquisa cientifica de Dawkins ser completamente concordante com o livro que ele mais condena. A Bíblia.

Pois é, o que Dawkins concluiu não é novidade alguma para os escritos bíblicos, na verdade essa é parte tônica de muitos dos ensinos e propósitos desse livro. E é extremamente louvável o esforço do zoólogo, que afinal, foi capaz de provar cientificamente a verdade bíblica que diz ser a natureza do homem essencialmente má (Jeremias 17:9; Romanos 3:10).

Em outras palavras a ciência em favor da fé. Dawkins em favor da Bíblia. Muito Irônico. Uma pena que por possuir a intransigente premissa da inexistência de Deus, ele tenha que passar por essas desconcertantes situações. Não vejo problema algum em sua posição negativa de Deus, o problema em minha opinião é a do velho clichê: “O pior cego é aquele que não quer ver”. Não mudar de opinião não indica intransigência, mas não julgar as informações disponíveis (o que o método cientifico exige) é tapar os olhos para não ver, isso é intransigência. Não quero provar nada, converter Dawkins ou seus seguidores com esse texto, apenas levar a simples reflexão de que as coisas não são tão simples assim.

Pra falar a verdade, aí que está a complicação, porque não faz o menor sentido para um organismo egoísta realizar atos de altruísmo. Inclusive esse é o grande problema do momento para o evolucionismo que não consegue explicar o altruísmo. Aquele ato de doação da sua própria existência sem esperar receber nada em troca. Ou mesmo a simples ética da honestidade, que faz você estar sozinho em um quarto escuro e não ousar deflagrar o seu imposto de renda. Ou quem sabe você deflagre, então aquele sentimento de culpa, que surge, vem da onde se o gene é egoísta e só está preocupado com seu bem-estar? Enquanto eles tentam, sem sucesso, resolver esse problema, o mais óbvio é obliterado em nome de razões volitivas e não racionais. Tão volitivas quanto a própria religião que ele condena. O que é tão óbvio? Ah, eu nem preciso te dizer, você já sabe, mesmo que negue.

8 comentários:

Anônimo disse...

Olá Webmaster

Essa sua publicação foi adicionada no diretório de notícias Ponci. Ponci é um agregador brasileiro que substitui o extinto Subindo.com.br, trazendo ainda mais recursos e agilidade para seus usuários. Todos os cadastrados no Subindo podem acessar tranquilamente o painel de controle no site Ponci, pois a base de dados continua sendo a mesma. Caso queira ter notícias de seu site adicionadas no Ponci, basta colocar em seu blog os nossos selos. Outra novidade é o nosso novo botão de votação: assim os seus visitantes poderão ver sua pontuação no Ponci atravéz do seu site, podendo votar na sua matéria com toda facilidade.

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Anônimo disse...

Suas afirmações iniciais, como por exemplo "o ser humano é egoísta por natureza" ou, mais adiante em que afirma não compreender "um organismo egoísta realizar atos de altruísmo" denotam que houve um erro de interpretação. Não é o indivíduo que é egoísta, é o GENE. Uma coisa não implica necessariamente na outra. Essas premissas equivocadas é que dão toda a tônica para o desenvolvimento de seu raciocínio. Mas como o ponto de partida é incorreto, por mais bem desenvolvido que o raciocínio seja (como aliás foi), acaba se tornando inválido.

Unknown disse...

Vector, obrigado por comentar. Notei uma falha na minha argumentação porque não delimitei a questão que vc levantou no texto. Eu deveria ter explicitado que o egoísmo do individuo é a implicação final do egoísmo do GENE. Que compõe e influencia os atos do individuo. Até Freud assumia essa implicação final, materialista e egoísta do individuo ateu (ou seja, individuo que deixa fluir a natureza sem as objeções e limitações impostas pela religião). No entanto Dawkins, apenas torna esse conhecimento científico e experimentável. Talvez dizer que o individuo é egoísta porque o GENE é egoísta, demande uma pesquisa científica. Eu concordo. Mas o próprio Dawkins supõe o meu argumento: "Let us try to teach generosity and altruism, because we are born selfish" (Vamos tentar ensinar a generosidade e o altruísmo, porque nós nascemos egoístas). Extraído do seu livro, "O Gene Egoísta".

Anônimo disse...

Diego, em primeiro lugar, obrigado pelo espaço democrático.
É na terceira frase de seu comentário anterior que se repete o equivoco da postagem principal de seu blog, provavelmente potencializado por conta do nosso sistema educacional extremamente deficitário, onde o ensino público é sucateado, o privado se reduz cada vez mais a mera fonte de lucro, e o educador tem salários cada vez menores. Esses três itens criam um círculo vicioso auto-sustentado e crescente, com resultados muito ruins a cada novo ciclo. Eu mesmo tenho até hoje muitas dificuldades em superar algumas lacunas educacionais minhas provavelmente oriundas de meu ensino fundamental limitado. De qualquer forma, sinto-me na obrigação de contribuir com o esclarecimento referente a equívocos que tão comumente cometemos na área das ciências naturais.
A relação direta de que um "gene egoísta" leva inevitavelmente ao um "organismo egoísta" é um engano decorrente de uma análise reducionista (típica de um positivismo ainda muito presente em vários bolsões acadêmcos e científicos) durante esses dois extremos - gene/organismo. Entre um e outro existe um processo de uma riqueza e uma beleza tão fascinantes que se não analisadas com a lupa do detalhamento podem nos levar a conclusões errôneas.
Quando usamos a expressão "o gene egoísta", o adjetivo não tem o sentido cotidiano do termo. O "gene egoísta" é apenas aquele que "quer" estar presente no maior número possível de indivíduos da espécie. E, para isso, a Seleção Natural pode gerar estratégias extremamente inesperadas - e muito comuns. Entre insetos de vida social, como as abelhas, todas as operárias são irmãs, filhas da rainha. Portanto, carregam os mesmos genes desta. Como são estéreis, as operárias não podem "passar seus genes" para a geração seguinte. Mas, para defender sua colônia são capazes de dar a vida (uma ferroada representa o fim da vida de uma abelha). Dessa forma, protegendo a colméia, ela ajuda que seus genes - presentes na rainha protegida na colméia - passem adiante nas gerações seguintes. É o "gene egoísta" influenciando um comportamento "altruísta" no organismo "abelha operária". Outro exemplo lindíssimo diz respeito aos jacarés e uma espécie de pássaro chamado "paliteiro". Os restos de comida entre os dentes do jacaré podem trazer-lhe problemas dônticos que influenciarão negativamente sua mastigação - e portanto sua sobrevivência - no futuro. Ele e o paliteiro estabeleceram uma relação simbiótica onde o pássaro se alimenta dos restos de carne presos entre os dentes do jacaré. Este aguarda a faxina pacientemente com sua boca aberta, sem devorar o pássaro. É o "gene egoísta" influenciando o organismo "jacaré" numa atividade "cooperativa", e assim garantindo que o organismo viva mais tempo para reproduzir-se mais e assim espalhar o gene num maior número de indivíduos. "Altruísmo" e "cooperativismo": estratégias benéficas que um "gene egoísta" elegantemente pode reger na orquesta da Seleção Natural. Muitos outros exemplos são descritos em "O Rio que Saída do Éden", do zoólogo Richard Dawkins.
Aliás, o equívoco sobre a obra de Dawkins citado em sua postagem acima levou o autor britânico a pacientemente, e mais uma vez, trazer cristalinos esclarecimentos na área da biologia e da genética em sua mais recente obra, "Deus, um delírio" (Cia das Letras, 2007 - 4a reimpressão). No cápitulo 6 (as raízes da moralidade: porque somos bons?) ele escreve na pág. 280:
"De onde vem o Bom Samaritano que existe em nós? A bondade não é incompatível com a teoria do "gene egoísta"? NÃO. Esse é o equívoquo comum na compreensão da teoria (...) O GENE egoísta é a ênfase correta, pois contrasta com o organismo egoísta, digamos, ou a espécie egoísta"
Ainda nesta página, alerta sobre o significado real da expressão no campo da biologia ao "destacar o gene como a unidade do 'egoísmo' no sentido especial e darwiniano do egoísmo".
Finalizo, com sua bela síntise na pág. 281: "Existem circunstâncias - que não são especialmente raras - em que os genes garantem uma sobrevivência egoísta influenciando os organismos a agir de forma altruísta". Outros exemplos na Natureza são ilustrados nos parágrafos subseqüentes.
Desculpe-me a extensão do texto. Tentei ser o mais claro e direto possível.
E, mais uma vez, agradeço o espaço democrático para o presente esclarecimento.

Unknown disse...

Vector, mais uma vez agradeço pelo seu interesse no assunto. Apenas a guiza de irônia, parece realmente que o nosso sistema educacional está realmente muito deficitário, afinal de contas a citação de Richard Dawkins de seu livro "O Gene egoísta" que postei foi completamente ignorada e deu-se em lugar uma falácia por autoridade do caramba, que eu agora repito, pra não perder a piada.rs. Eu poderia escrever muita coisa sobre os argumentos colocados acima, mas vou me ater na mais gritante questão. O caso das abelhas e do Jacaré citado por você, não são nem de longe casos de altruísmo. Para elucidar mais o que estou dizendo, veja a definição do dicionário Houaiss para Altruísmo:

s.m. (1891 cf. FA) 1 fil segundo o pensamento de Comte (1798-1857), tendência ou inclinação de natureza instintiva que incita o ser humano à preocupação com o outro e que, não obstante sua atuação espontânea, deve ser aprimorada pela educação positivista, evitando-se assim a ação antagônica dos instintos naturais do egoísmo 1.1 amor desinteressado ao próximo; filantropia, abnegação.

Ou seja, dar sem esperar nada em troca, pra começar!

Não quero me estender mais, pq essa não é a questão da discussão. Eu apenas declarei no artigo o que Dawkins declarou em seu livro "O gene egoísta" se ele tentou concertar isso depois ou se expressou mal, ou foi mal interpretado, o problema é dele, e só prova minha tese: Ele está tão ligado ao assunto "religião" quanto gostaria.

Abraço.

Anônimo disse...

Olá Diego.
É exatamente isso! A conotação destes termos não é a mesma no seu sentido comum, de uso quotidiano, como definidos nos dicionários. O mesmo vale para o adjetivo "egoísta". Entra aqui a conotação darwiniana do termo, motivo pelo qual até abusei do uso das aspas. Este é o primeiro equívoco da expressão "o ser humano é egoísta por natureza" porque é o “gene egoísta”, pois a teoria não está tratando o termo “egoísmo” na conotação comum. Outro ponto compreensivelmente equivocado e que tentei demonstrar é a idéia de que quaisquer pré-disposições genotípicas (de origem genética) levariam direta e determinantemente a manifestações fenotípicas (resultados das interações com o ambiente - sendo "ambiente" aqui usado no mais amplo dos significados, desde ecológicos à sociais; no caso da espécie humana, acrescentam-se os psico-sociais). É o caso das ilustrações no meu comentário anterior, onde o "gene egoísta" (no sentido darwiniano do termo) leva a comportamentos "atruístas" (também no seu sentido darwiniano) ou "cooperativistas" (ainda no sentido darwiniano). Preenche-se assim a lacuna matriz que gera o pensamento de que "não faz o menor sentido para um organismo egoísta realizar atos de altruísmo" (como sempre, no sentido darwiniano dos termos). É assim que o Evolucionismo desvendou o comportamento de animais em ambiente natural; a "complicação" existia só antes de Darwin! Portanto, mesmo que a Biologia estivesse falando em egoísmo no seu sentido comum (o que de fato não acontece), a afirmação de que "o egoísmo do individuo é a implicação final do egoísmo do gene" não tem suporte do ponto de vista biológico: porque entre os extremos gene/organismo ocorrem inúmeros processos multilaterais e interinfuenciáveis que muitas vezes podem resultar em comportamentos a princípio inesperados. Pode até ser que algumas mitologias religiosas, dentre elas a mitologia cristã, validem a idéia de que é "a natureza do homem essencialmente má". Mas nas Ciências Naturais nenhum paradigma biológico legitima esse tipo de afirmação. Não há autoritarismo nenhum nisso tudo, pois não sou eu quem estou afirmando. A História Natural ao longo dos últimos séculos que construiu este paradigma.
Outra objeção que gostaria de fazer para ajudar a esclarecer mais sobre o assunto é que a citação retirada de "O Gene Egoísta" em seu primeiro comentário fica descontextualizada quando o restante do capítulo (e até do livro) não é considerado. Como exemplo, o autor afirma na obra citada: "A terceira coisa que este livro não é, é um relatório descritivo do comportamento detalhado do homem..." (O Gene Egoísta, pág. 24 - Editora Itatiaia - 2001 - BH/RJ). Esta frase está posta no mesmo capítulo da que você transcreveu (quatro parágrafos adiante). Isso continua no livro todo. No capítulo 4 (A Máquina Gênica), o topo da página 75 traz, depois de iniciar uma analogia com um programa de computador para jogar xadrez, Dawkins escreve que isso "...é falacioso, uma vez que afeta nossa compreensão do sentido de que se poderia dizer que os genes 'controlam' o comportamento." Ou seja, mesmo que o gene fosse egoísta no sentido do dicionário (que não é o que a teoria afirma), mesmo assim não significa que o gene controla diretamente o comportamento. Adiante ele segue com o raciocínio, que é claro não transcreverei-o aqui porque é extenso, mas vale a pena conferir. Depois, na página 83: "... os genes exercem o poder final sobre o comportamento. Mas as decisões a cada instante sobre o que fazer em seguida são assumidas pelo sistema nervoso. Os genes são os fazedores primários dos planos de ação, os cérebros são os executantes. Mas à medida que os cérebros tornam-se mais altamente evoluídos assumem cada vez mais as decisões reais sobre os planos de ação...". Como nossos cérebros são os mais complexos em relação aos outros animais, imagine como a influência do "gene egoísta" vai sendo diluída! Isso, mais uma vez, se fosse egoísmo no sentido comum (o que, reafirmando, não é o que a teoria diz; a teoria usa-o na conotação darwiniana) para nós humanos essa influência seria muito menor do que o oriundo do nosso sistema nervoso complexo. Quando descontextualizamos trechos de obras científicas, o fazemos temerariamente, pois toda construção científica edifica-se num conjunto de conceitos e raciocínios concatenados que praticamente tornam a obra uma peça única. Conclusões de citações localizadas podem assim, sedutora e facilmente, levar-nos a transposições mecânicas de modelos teóricos de uma esfera de estudos para outra. Isso pode resultar em equívocos desastrosos. Penso inclusive que o maior deles se refere ao "darwinismo social", um dos mais falaciosos e nocivos equívocos da humanidade surgido no séc. XIX ao se fazer essa transposição mecânica do Evolucionismo da esfera das Ciências Naturais para as Ciências Humanas.
Compreendo realmente que parte de nossos equívocos são oriundos de nossas deficiências em alfabetização científica. E isso não é "privilégio" do Brasil. Ocorre no mundo todo. Pôde lhe parecer piada, mas se trata na realidade de uma constatação preocupante e triste.
Assim, em nenhum momento a centralidade de meus comentários coincidiu com o alvo de seu artigo. Procurei apenas contribuir para uma melhor compreensão dos processos biológicos ali envolvidos, e não discorrer sobre Richard Dawkins.
Mas se o assunto é Dawkins de qualquer forma, não há problema. Penso, ao contrário de sua tese, que não há ligação religiosa nas opiniões dele. Não é porque, por exemplo, se ele enaltece alguma forma de altruísmo (aqui sim no seu sentido comum, dos dicionários) que isso se reduziria a mero pensamento religioso. Pode até haver alguma equivalência com algum conceito idealista, cristão digamos, mas isso não é problema nenhum nem para ateístas, nem para teístas (desde que não-fundamentalistas). As pessoas são capazes de desejar o bem para seus próximos, para a humanidade ou para todo ser vivente de modo genuíno, sem que uma suposta entidade sobrenatural lhe ameace com sua ira ou lhe prometa em troca uma vida eterna num lugar paradisíaco. Afinal, a bondade não é monopólio da religião, não é mesmo?
Finalizo por aqui também. Um grande abraço, e obrigado mais uma vez pelo espaço democrático.

Unknown disse...

Para um comentário tão completo como esse, realmente não sei por onde eu começo. Então vou começar pelo fim.

Concordo com você que a religião não monopoliza a bondade, lógico. Mas eu preciso devolver a você o mesmo discurso feito sobre analfabetização cientifica. Agora, contextualizando a religião, que você chamou de "mitologia cristã". Sua afirmação é tão dogmática e fundamentalista quanto você mesmo, talvez, gostaria que fosse. Eu realmente ainda não lí toda a obra de Dawkins e admito que posso ter cometido o erro tão comumente cometido por vocês, descontextualizado uma afirmação. Achei muito enriquecedor o seu esforço para por a passagem citada sob seu contexto original.É impressionante como nosso discurso se afina quando erros semelhantes se cometem. Eu prometo re-avaliar meu comentário baseado no seu esclarecimento contextual e partindo do pricipio que é isso que encontrarei tendo, eu, feito uma pesquisa detalhada no contexto em voga. Até lá, eu gostaria apenas de dizer que há muitos preconceitos(sutis) em seu discurso como a falaciosa e inverossímel insinuação de que há "uma entidade sobrenatural" que "lhe ameace com sua ira ou lhe prometa em troca uma vida eterna num lugar paradisíaco" como sendo essas as motivações do cristão em sua bondade. Assim também como espero que você não tenha suposto que eu creio que fora da religião não haja bondade.

Quanto a Dawkins, acredito que por muita discussão aqui nos comentários tenhamos nos perdido do foco central, que era a irônia de Dawkins afirmar algo que corroborava a religião. Mas segundo você, não era isso que ele queria dizer, entendo. Mas não quis dizer que Dawkins tinha um "pensamento religioso". Embora sua atuação na discussão seja tão militante que chegue a parecer religiosa. Me arrisco a chamá-lo de Papa do Ateísmo (rs).

Agora a mesma compreensão que você tem esperado no que tange ao conhecimento cientifico seja necessária para o conhecimento religioso. Não entendo porque cientistas, estudiosos que experimentam fatos, sejam tão levianos ao analisar a religião, tanto quanto você diz que eu fui (ponho sobre você essa afirmação apenas por vigilância epistêmica, pois é possível que após breve estudo sobre a questão levantada eu mesmo venha a afirmar o mesmo).
Estuda-se muito o impacto social, psicológico e cultural da religião e das religiões, mas não se estuda o seu conteúdo, filosofia e evidências. Ou seja, suas reais prerrogativas. Cientistas não querem se "sujar" com isso, mas querem ter a palavra final: "mitologia". Engraçado. Não fosse triste e um problema mundial também! Mas vocês podem aproveitar bastante a situação atual, estão em vantagem, porque mesmo sendo a religião parte de 73% da população mundial, é o conhecimento cientifico que está em alto, embora seu colapso já tenha se iniciado de dentro para fora. Por fim, para que não fiquem equivocos aqui perpetuados, não tenho títulos acadêmicos suficientes para me considerar um cientista, mas esse é o caminho que eu trilho, sem o minímo preconceito, afinal eu entendo a revolta da ciência, depois de anos de repressão por parte da religião. É que não creio que os erros do passado sejam argumentos para as verdades estudadas no presente. A religião pouco a pouco esta aprendendo a conviver com a ciência, espero que a ciência veja isso também. E essa guerra ideológica termine. O que não significa unificação de idéias. Óbvio.

Anônimo disse...

Olá Diego, quanto tempo. Tudo bom?
Apenas agora, depois de todos esses meses, vi seu último comentário. Gostaria de fazer uns pormenores.
Primeiro esclarescendo que seria uma leviandade minha atribuir leviandade a seu texto. A todo momento tentei demonstrar é que muitos dos nossos equívocos com relação às Ciências Naturais são oriundas de uma educação científica deficitária, um "fenômeno" não exclusivamente brasileiro, no qual eu mesmo fui vítima e que me trouxe várias dificuldades ao ingressar na universidade.
Tenho dúvidas se não se estuda a filosofia e afins do fenômeno religioso. Há inúmeros trabalhos, de inúmeros historiadores e antropólogos sobre o tema. Nenhuma faculdade de filosofia que se prese, por exemplo, deixa de passar por nomes como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, que mesmo sendo filósofos do medievo são incontornáveis na história da filosofia (da tradição ocidental).
Também não compreendi muito bem o que que significaria "Cientistas não querem se 'sujar' com isso...". Meu professor de Biologia Evolutiva é um cristão espírita, o de Física Quântica é católico devoto de Maria, e Frans Collins, biólogo chefe do projeto Genoma norte-americano, também é católico. Logicamente há os que não seguem muitas tradições de cunho religioso, há ateus e agnósticos, etc, que me faz pensar que muitas destas posições particulares são totalmente circunstanciais ou pelo menos não são tão formente vinculadas às suas atividades como pesquisadores.
Outra discordância é com relação a afirmação de que "...vocês podem aproveitar bastante a situação (...) o conhecimento científico está em alta". Em primeiro lugar porque conota uma espécie de disputa ou competição entre as religiões e as ciências, quando na verdade isso não é possível porque seus objetos são totalmente distintos. Em segundo lugar porque, como enfatizei algumas vezes, o fenômeno do analfabetismo científico é uma triste realidade mundial. Nunca a humanidade esteve imersa em tantos subprodutos da ciência moderna e nunca fomos tão desinformados quanto aos seus funcionamentos básicos. Clicamos no interruptor da lâmpada mas não sabemos o que são os elétrons que as acendem, temos notícias de bactérias que evoluíram para resistência a antibióticos mas não sabemos o que é a seleção darwiniana que as geraram, e por aí vai. São conceitos qualitativos apenas, nada de equações complexas ou coisas extremamente avançadas, que são da alçada daqueles que desejam se tornarem especialistas. Por isso entendo que o conhecimento científico não está em alta. E na verdade nunca esteve.
Não me parece haver "revolta da ciência", porque não houve diretamente uma repressão por parte dos religiosos. O embate se deu entre o regime feudal e sua nobreza em queda com os mercadores e comerciantes em ascensão, não entre ciência e religião. Na Idade Média a ciência era atrelada à teologia, e o que o estudiosos e filósofos iluministas fizeram foi tentar desfazer esse atrelamento. Os terríveis tribunais da Santa Inquisição e os ataques de católicos e protestantes à ciência nascente e seus cientistas foram o efeito perverso desse atrelamento, da resistência em desfazê-lo e do desespero dos Senhores Feudais e sua nobreza que tinham na teologia dominante o sustentáculo ideológico de seu "status quo".
Claro que nem tudo é discordância. Concordo contigo quando afirma que há um analfabetismo com relação ao conhecimento religioso. A criatividade humana pode ser dividida em três grandes eixos: a científica, a artística e a mitológica. Eles são distintos e incomensuráveis entre si, e o mais importante, em seus compenentes internos não há hierarquia. Isso significa que parece bastante improvável que um dia iremos encontrar um físico discutindo com um biólogo que sua ciência é "mais verdadeira" que a dele. Ou um poeta afirmando que sua arte é mais arte que a do pintor. Mas infelizmente na religião isso parece nem sempre acontecer. Justamente porque muitos religiosos, com destaque aos expoentes mais notórios de suas respectivas escalas sacerdotais, não reconhecem que sua religião é mais uma mitologia. Da mesma forma que a física é apenas mais uma ciência, nem melhor nem pior que a biologia, e a poesia é apenas mais uma arte, nem mais nem menos abrangente que a pintura. Temos assistido ultmamente aos efeitos brutais dessa incompreensão do conhecimento religioso: o fundamentalismo, que impõe sua "verdade" sobre as demais religiões e até sobre os outros dois eixos da criatividade humana. Assim vemos os homens bomba do fundamentaismo islâmico no Oriente Médio, os conflitos entre fundamentalistas cristãos católicos e protestantes em Stradford no Reino Unido, a violência das tentativas de ruptura da unidade nacional dos fundamentalistas budistas na província chinesa do Tibete, etc. Quando a humanidade deixar a ilusão de que mitologia é apenas a religião "do outro" é que teremos dado um passo firme em direção ao fim da intolerância religiosa. O termo "mitologia", portanto, não é nada pejorativo, como a expressão "ciência" ou "arte" não são. Não é um preconceito, é conceito mesmo.
E sim, a anadota de Dawkins como um Papa do Ateísmo foi boa :)

Abraço, e boas festas de fim de ano.